Há uns anos era assim:
Os casais iam ao banco pedir um empréstimo para, complementado com o seu pé de meia, poder comprar a casa que viria a ser o seu lar. Eram muito bem recebidos no banco. O seu gestor de conta, sempre muito prestável, convidava-os a ir para um gabinete, sentava-os confortavelmente, oferecia-lhes um cafézinho. Depois de analisadas as contas, convencia-os a pedir, não o dinheiro que tinham em falta para adquirir a casa, mas a totalidade do valor do imóvel. Afinal o banco emprestava, afinal o banco só pedia como garantia o próprio imóvel, afinal os juros eram baixos... Com o dinheiro que sobrava, a família podia mobilar a casa, comprar carro e ainda ir de férias. Afinal o banco era amigo!
Hoje é assim:
Ele perdeu o emprego. Ela perdeu o emprego. Têm 2 filhos na escola. As contas chegam religiosamente todos os meses, indiferentes às dificuldades. O dinheiro não chega para tudo. A prestação da casa foi preterida, para que a comida não faltasse na mesa. O banco tirou-lhes a casa, mas continua a querer dinheiro.
Quando eles queriam 1 o banco convenceu-os a pedir 2. Já pagaram 0,5. Perderam a casa, que já só vale 1,5 e o banco é implacável, quer mais 1, porque o banco não tem culpa de as pessoas não conseguirem resistir à tentação das campanhas agressivas do dinheiro fácil praticado pela nossa banca. Afinal o banco não é amigo...
Isto é a propósito desta notícia. Não posso deixar de admirar a coragem e correcção deste juiz. Pela primeira vez, neste país de lobistas, alguém teve a coragem de decidir contra o sistema, contra o poder, contra o dinheiro, sendo justo com quem procurou justiça.
2 comentários:
Por vezes a justiça acontece
Nem mais..
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