Emociona-me ver as hordas de pessoas que, nesta altura do ano, rumam a pé ao São Bento da Porta Aberta. Passam por mim com a alegria e desenvoltura de quem parece desconhecer as muitas dezenas de quilómetros por percorrer. A viagem faz-se sempre de noite e o caminho desenrola-se pela madrugada dentro, ora por estrada, ora por montes, ao som de cantorias, anedotas, rezas, lamúrios, há tempo para tudo. Na chegada, às primeiras horas da manhã, cumprimenta-se o Santo lá no alto da sua igreja, assiste-se à missa e está a promessa paga.
Este é um ritual muito praticado pelas gentes do meu Minho, e repetido ano após ano. Minhoto que se preze já foi ao São Bentinho a pé. Eu, fruto da pouca fé nas minhas pernas, e do medo da subida acentuada das Cerdeirinhas nunca me atrevi. Sempre achei que não aguentaria mais de 30 quilómetros (apesar de estar nos planos uma caminhada até Santiago de Compostela). Além disso, a minha relação com este santo é, um tanto ao quanto, melindrosa. Cresci num família de devotos do São Bento, a ouvir histórias (ou estórias) de como é vingativo para aqueles que não cumprem com o prometido. Não é um santo difícil de agradar é certo, uns cravos, ovos, sal ou o sacrifício da caminhada servem de moeda de troca por uns quantos milagres mas, sou pessoa de memória curta nisto das promessas e sempre temi esquecer algo que lhe tenha prometido. Quando preciso da sua intervenção meto uma cunha com a minha mãe que, nascida no dia do santo, ao lado do seu mosteiro, tem com este uma relação de unha e carne. Faço questão de todos os anos, por altura do seu dia - 11 de Julho, ir ao seu mosteiro beijar a imagem e colocá-la sobre a cabeça para pedir discernimento e inteligência, nisso o santo não me tem falhado.
Não sei se alguma vez terei a perseverança (ou fé) necessária para cumprir esta viagem, enquanto isso, vou continuar a deliciar-me com os cordões humanos que por mim passam a caminho do seu milagre. Deus os ajude...
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