O que há de exemplar na vitória de Rui Moreira no Porto é que um povo que vive a dizer que "eles são todos iguais" foi confrontado com a diferença e desafiado a fazer uma escolha - e escolheu, não desaproveitou a oportunidade. Tanto como a vitória de Rui Moreira, enfrentando condições extremas de desigualdade e até de deslealdade concorrencial, foi a dimensão e o significado da derrota de Luís Filipe Menezes que tornaram o desfecho do Porto um exemplo e uma lição para todos. Menezes, um dos barões da política e desse tantas vezes pernicioso PSD, atacou a campanha com a arrogância de quem se gabava de ter sete vitórias em outras tantas pugnas eleitorais e de quem dispôs de meios sem fim, do apoio dos suspeitos do costume e, acima de tudo, com o despudor de prometer a um eleitorado estrebuchando sob a avalancha de sacrifícios impostos pelo Governo do seu partido uma espécie de círculo eleitoral de excepção, onde, em caso de vitória sua, não faltariam nem dinheiro, nem obra, nem capacidade de endividamento. Perante os túneis e pontes, a baixa de impostos e rendas sociais, e os porcos assados e concertos de Quim Barreiros que Menezes prometia e oferecia, Rui Moreira respondeu com as pequenas soluções concretas que mexem com a vida concreta das pessoas e a economia da cidade. Não faltou quem, mal digerindo a derrota e a lição, tenha afirmado que foi a "grande burguesia da Foz" que ganhou a eleição do Porto - contra, presume-se, o "povo", que o PSD, sobretudo, mas também o PS, devem representar a Norte, tal como os comunistas representam a Sul. Mas quem assim fala não conhece bem o Porto nem percebeu bem o que lá aconteceu no domingo passado. Triunfou, sim, um antigo e digno espírito burguês, assente em virtudes velhas e em desuso, tais como o trabalho, a poupança, a seriedade nos negócios e nas contas, que ao longo dos tempos fez a prosperidade e o nome honrado do Porto.
Percebo bem que o baronato partidário, preso a uma lógica de aparelho e caciquismo e, apesar dos anos já decorridos, formado por aquilo a que podemos ainda chamar os novos-ricos da política, tenha dificuldades em entender algumas lições recebidas nestas eleições e mudar o que quer que seja. E, contudo, se o não fizerem, não é apenas a sua sobrevivência que está em causa, mas uma coisa bem mais importante: a própria sobrevivência do sistema representativo partidário, base da democracia tal como a conhecemos. Nada melhor do que a exemplar derrota do PSD para demonstrar isto. Escolhendo sobranceiramente candidatos que queria promover e não aqueles que o eleitorado queria ver, julgando que as escolhas do partido se imporiam por si, o PSD mostrou quão desfasado está da sua função primeira: representar os eleitores.»
[Miguel Sousa Tavares, in "Expresso", edição 5 de Outubro 2013]
(não costumo concordar com o que este senhor diz, a não ser quando fala sobre o FCP. Desta vez é só sobre o Porto, sem o futebol mas, concordo em todos os graus...)
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