Não me lembro o que almocei anteontem, na verdade tenho de me concentrar para me recordar o que comi ontem ao almoço. Contudo, recordo com muita precisão o que almocei faz hoje 11 anos. E recordo-me porque era precisamente isso que eu estava a fazer quando aconteceu o 11 de Setembro. Estava num restaurante junto ao Atlântico a comemorar o aniversário do meu pai. Começamos com um camarão da costa cozido, umas sapateiras recheadas e as ameijoas à bulhão pato. Foi precisamente quando íamos começar a atacar o arroz de lavagante que o gerente veio à sala, (estávamos numa área reservada) contar-nos e ligar-nos a televisão para que pudéssemos ver. A tese de acidente ainda prevalecia. Foi de alicate em punho, em luta com um lavagante que vi o segundo avião a embater na torre sul. Tal como a maioria dos seres humanos que assistiram àquele momento em directo, eu também não atingi a magnitude do que se estava a passar. A distância dos acontecimentos, permitiu-me continuar a desfrutar da refeição, com algum espanto e comoção mas, sem grande choque ou horror. Quando penso nesse dia e na minha reacção, assim como na dos que estavam comigo, não consigo deixar de me surpreender com a natureza humana. Em informação um dos critérios para a selecção de notícias é a distância, um morto em Portugal é mais notícia que 10 em Inglaterra e estes são mais notícia que 100 na China. Acho que o nosso cérebro não está formatado para se comover com imagens terríveis como a da queda das torres, ou das pessoas a saltar por puro desespero, ou com os números soltos do balanço das tragédias. No caso do 11 de Setembro, o horror atingiu-me com a divulgação histórias de pessoas que foram directamente afectadas por este acto hediondo: pais que perderam filhos, filhos que perderam pais, amores desfeitos, despedidas sentidas...Não tenho nenhuma outra recordação tão detalhada dos aniversários do meu pai mas, aquele permanece gravado na minha memória. Foi gravado a ferros, pela dor e desespero das histórias contadas na primeira pessoa. Porque, quando a tragédia não tem rosto é apenas mais uma história que se perde na teia da História.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
e tu, onde estavas?
Não me lembro o que almocei anteontem, na verdade tenho de me concentrar para me recordar o que comi ontem ao almoço. Contudo, recordo com muita precisão o que almocei faz hoje 11 anos. E recordo-me porque era precisamente isso que eu estava a fazer quando aconteceu o 11 de Setembro. Estava num restaurante junto ao Atlântico a comemorar o aniversário do meu pai. Começamos com um camarão da costa cozido, umas sapateiras recheadas e as ameijoas à bulhão pato. Foi precisamente quando íamos começar a atacar o arroz de lavagante que o gerente veio à sala, (estávamos numa área reservada) contar-nos e ligar-nos a televisão para que pudéssemos ver. A tese de acidente ainda prevalecia. Foi de alicate em punho, em luta com um lavagante que vi o segundo avião a embater na torre sul. Tal como a maioria dos seres humanos que assistiram àquele momento em directo, eu também não atingi a magnitude do que se estava a passar. A distância dos acontecimentos, permitiu-me continuar a desfrutar da refeição, com algum espanto e comoção mas, sem grande choque ou horror. Quando penso nesse dia e na minha reacção, assim como na dos que estavam comigo, não consigo deixar de me surpreender com a natureza humana. Em informação um dos critérios para a selecção de notícias é a distância, um morto em Portugal é mais notícia que 10 em Inglaterra e estes são mais notícia que 100 na China. Acho que o nosso cérebro não está formatado para se comover com imagens terríveis como a da queda das torres, ou das pessoas a saltar por puro desespero, ou com os números soltos do balanço das tragédias. No caso do 11 de Setembro, o horror atingiu-me com a divulgação histórias de pessoas que foram directamente afectadas por este acto hediondo: pais que perderam filhos, filhos que perderam pais, amores desfeitos, despedidas sentidas...Não tenho nenhuma outra recordação tão detalhada dos aniversários do meu pai mas, aquele permanece gravado na minha memória. Foi gravado a ferros, pela dor e desespero das histórias contadas na primeira pessoa. Porque, quando a tragédia não tem rosto é apenas mais uma história que se perde na teia da História.
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