Era uma vez um senhor, empresário, endinheirado. Chamemos-lhe Nevoeiro. O senhor Nevoeiro vinha de um reino a norte, onde a lei era imposta pelo vil metal. Tudo era transaccionável e os poderes económico, político e judicial coabitavam em relação incestuosa. Foi aí que fez a sua fortuna, crescendo desde humilde construtor a grande empresário. Decide então alargar os seus investimentos e apostar em outros reinos, maiores, mais longínquos. O seu modelo de negócio, já tinha dado provas de ser eficaz. O património público deve servir é para encher os bolsos de alguns, que isto de ser do povo é dar pérolas a porcos. Importa, por isso, é manter boas relações com quem governa e assim governar-se. E o senhor Nevoeiro, lá foi conquistando terra a sul, impondo o seu brasão por pequenos reinos, e enchendo os seus e os bolsos de quem o ajudava. O plano agora era conquistar o grande reino, aquele onde o azul Tejo atravessa majestosamente as suas terras. Todavia, chegado lá, o senhor Nevoeiro esbarra em algumas dificuldades. O burgo é maior, o poder não está tão concentrado, não há um imperador que reine sozinho, há mais nobres para agradar. Vai fazendo o seu jogo, até esbarrar na teimosa rectidão do senhor Só. Habituado ao sistema de compensações, decide abrir os cordões à bolsa e oferecer um pequeno agrado ao senhor Só. Uma prova de boa fé, dizia ele. Mas o senhor Só era mais teimoso que uma mula, e mais recto que uma régua e decide armar uma armadilha ao senhor Nevoeiro. Este, que não imaginava que pudesse haver no mundo gente parva que desperdiçasse um saco de moedas, caiu como um patinho. A sua voz ficou gravada oferecendo um agrado em troca de um favor e, com esta prova, o senhor Só fez o que lhe competia e denunciou-o à autoridade suprema do reino. Acontece que o senhor Nevoeiro não chegou onde chegou por ter amigos burros e vai dai, apoiado no seu conselho de sábios, decide virar o bico ao prego e acusar o senhor Só de abuso: parece que gravar a voz de outros, mesmo a praticar o mal, sem pagar direitos de autor é crime. A autoridade do reino, com quem o senhor Só trabalhou para apanhar o mau desta fita, concordou com a perspectiva do senhor Nevoeiro e decidiu castigar o senhor Só.
Acabou que o senhor Nevoeiro foi ilibado do crime que todos sabem que cometeu e o senhor Só condenado por um crime que nunca existiu. Acontece que o senhor Nevoeiro, corrupto inquestionável, pousa de bom cidadão enquanto o senhor Só, passa por burro por ter ficado de mãos a abanar, sem dinheiro, sem razão e ainda com a conta do tribunal para pagar.
Parece fantasia, mas aqui, neste conto, que não é de fadas antes de ogres , que é Portugal, tudo é possível...
2 comentários:
Concordo com tudo o que escreves mas olha que até a meio do texto, com tanta corrupção e jogos obscuros, pensei que te estavas a referir à SAD do fóculporto, pá...
(ah não era a resposta certa?)
e desde quando é que os lampiões pensam, pá?
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