quinta-feira, 3 de outubro de 2013

das palavras que podiam ser minhas...





Deve haver certamente algumas coisas que um banho quente não seja capaz de curar, mas eu não conheço muitas. Sempre que estou triste ao ponto de sentir a vida a fugir por entre os dedos, ou de tal modo nervosa que sou incapaz de adormecer, ou apaixonada por alguém que vou estar sem ver durante uma semana, digo para mim mesma: «Vou tomar um banho quente».
No banho, medito. A água tem de estar muito quente ao ponto de ser quase impossível pôr o pé lá dentro. A fase seguinte é a de nos enfiarmos dentro dela muito lentamente até ficarmos apenas com a cabeça de fora.
Recordo-me dos tectos de todas as casas em cujas banheiras me deitei. Recordo-me das suas texturas, das suas falhas, das cores, das manchas e das instalações luminosas. Recordo-me também das banheiras: antigas, grandes, com pés de grifo,das mais modernas em forma de caixão e das mais requintadas em mármore, semelhantes a lagos interiores. 
Não me sinto como se fosse eu que estivesse ali quando tomo um banho quente. 
Não acredito no baptismo nas águas do Jordão ou em coisas semelhantes, no entanto, acho que o banho quente deve estar para mim como a água benta para os religiosos.

Sylvia Plath, A Campânula de Vidro

2 comentários:

Sílvia disse...

E que também podiam ser minhas! :D

Inês disse...

E minhas....