Ontem o camarada (que não é meu) Jerónimo de Sousa decidiu adulterar um provérbio português adoptando a seguinte formulação: "é mais fácil apanhar um mentiroso do que um deficiente de uma perna"! Só tenho uma palavra para definir isto: ridículo. Além de adulterar todo o sentido do provérbio, porque pode ser deficiente da perna e não coxear, logo o problema não seria visivel, esta tentativa é elucidativa do patético que é o politicamente correcto. Não tendo nada contra o politicamente correcto que, admito seja necessário em determinadas áreas da vida social, assusta-me o exagero. Assusta-me sobretudo pensar que poderemos acabar como os americanos que só usam eufemismos. Porque os pretos não são pretos, são afro descendentes, os gordos são obesos, os velhotes são séniores, os anões são verticalmente desfavorecidos, os cegos são invisuais e, agora os coxos são deficientes da perna. É necessário que as pessoas interiorizem algo: não são as palavras que ofendem, as palavras são apenas um conjunto de letras. O que ofende é a forma como quem diz o diz. Deficiente de uma perna pode ofender muito mais que coxo, pois pode transparecer uma piedade que o coxo dispensa. Porque a discriminação positiva é também uma forma de discriminação tão ou mais grave que a outra.
A forma mais correcta de agir, ou falar, é fazê-lo naturalmente, chamando as coisas pelo nome, ou como diz o povo: "chamar os bois pelos cornos", e não "chamar os seres de espécie bovina pelos seus belos exemplares ósseos situados no cimo da sua cabeça". Perceberam a ideia?
(Nota: não deixa de ser curioso o facto de o primeiro-ministro, um homem de direita, andar, de uns tempo a esta parte, a adoptar uma linguagem mais popular, com uso de algumas expressões que têm até causado alguma comichão à comunicação social, enquanto que a nossa esquerda adopta um discurso mais cuidado, distânciando-se do seu eleitorado mais popular! mas isso sou eu que gosto de comunicação a reparar...)
1 comentário:
Estou de acordo contigo em tudo. Excepto no final.
Misturas duas frases numa só, e desculpa-me. Correcção. É: Chamar os bois pelos nomes
A outra seria: Pegar a vida pelos cornos :)
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