Quando nascemos é-nos atribuída (regra geral) uma família à qual passamos a estar agrilhoados. Somos educados no seu seio, somos formatados a pensar como eles, a gostar deles, a defendê-los. Partilhamos momentos, refeições, dores, alegrias. Comungamos natais, aniversários, baptizados e casamentos. É-nos incutido o conceito de sangue mas, o sangue não é suficiente para gostar. Aos 7 anos eu disse à minha avó que não gostava dela. Fui sincera e fui censurada porque não é permitido não gostar da avó. Eu tinha razões para não gostar dela, de um lado tinha uma avó/mãe, que me criou, me educou, me ensinou muito do que sei, que, todos os dias à noite, embrulhava os meus pés gelados nos seus para me aquecer. Do outro lado tinha uma avó que nunca foi calorosa ou amistosa, que fazia distinção nos netos filhos das filhas e filhos dos filhos. A comparação não era justa mas, eu de facto não gostava por aí além da minha avó. E não era só da minha avó. As minhas tias também não me diziam muito e alguns dos meus primos são-me completamente indiferentes, outros há que até tenho algum pudor em partilhar o mesmo ADN. A família é a metáfora perfeita da vida, dá-nos pessoas fantásticas que nos fazem muito felizes e outras aborrecidas que temos que engolir, tal qual um sapo. Porque são família, sangue do sangue, temos de os aturar, temos de os cumprimentar, ouvir e responder ao habitual questionário de cadeia. Os encontros são normalmente constrangedores, o diálogo estranho e a vontade de lhes dizer: "olhe eu sei que é da minha família mas nunca gostei muito de si, por isso se me dá licença, vou deixar de perder tempo consigo e virar-lhe as costas" - é muita. Mas, como é que dizemos a uma das pessoas que mais amamos no mundo que não gostamos da bagagem que ela traz? Que não gostamos da herança genética que carregamos e que preferimos a família que escolhemos - os amigos, á família que a vida nos impôs? Que a partilha de traços físicos não é sinónimo de empatia. Porque o melhor do mundo não tem que ser a família herdada mas, antes a família que escolhemos criar. Aqueles que, ao longo da vida vamos encontrado e que vão ficando por opção própria. Aqueles que escolhemos para compartilhar os bons momentos e que aparecem sem convite nos maus. Aqueles que nos conhecem como ninguém e nos aceitam incondicionalmente. Aqueles que não nos julgam nem tentam aproveitar-se de nós. Porque no final, os laços de alma são bem mais importantes que os laços de sangue...
domingo, 28 de outubro de 2012
Família...
Quando nascemos é-nos atribuída (regra geral) uma família à qual passamos a estar agrilhoados. Somos educados no seu seio, somos formatados a pensar como eles, a gostar deles, a defendê-los. Partilhamos momentos, refeições, dores, alegrias. Comungamos natais, aniversários, baptizados e casamentos. É-nos incutido o conceito de sangue mas, o sangue não é suficiente para gostar. Aos 7 anos eu disse à minha avó que não gostava dela. Fui sincera e fui censurada porque não é permitido não gostar da avó. Eu tinha razões para não gostar dela, de um lado tinha uma avó/mãe, que me criou, me educou, me ensinou muito do que sei, que, todos os dias à noite, embrulhava os meus pés gelados nos seus para me aquecer. Do outro lado tinha uma avó que nunca foi calorosa ou amistosa, que fazia distinção nos netos filhos das filhas e filhos dos filhos. A comparação não era justa mas, eu de facto não gostava por aí além da minha avó. E não era só da minha avó. As minhas tias também não me diziam muito e alguns dos meus primos são-me completamente indiferentes, outros há que até tenho algum pudor em partilhar o mesmo ADN. A família é a metáfora perfeita da vida, dá-nos pessoas fantásticas que nos fazem muito felizes e outras aborrecidas que temos que engolir, tal qual um sapo. Porque são família, sangue do sangue, temos de os aturar, temos de os cumprimentar, ouvir e responder ao habitual questionário de cadeia. Os encontros são normalmente constrangedores, o diálogo estranho e a vontade de lhes dizer: "olhe eu sei que é da minha família mas nunca gostei muito de si, por isso se me dá licença, vou deixar de perder tempo consigo e virar-lhe as costas" - é muita. Mas, como é que dizemos a uma das pessoas que mais amamos no mundo que não gostamos da bagagem que ela traz? Que não gostamos da herança genética que carregamos e que preferimos a família que escolhemos - os amigos, á família que a vida nos impôs? Que a partilha de traços físicos não é sinónimo de empatia. Porque o melhor do mundo não tem que ser a família herdada mas, antes a família que escolhemos criar. Aqueles que, ao longo da vida vamos encontrado e que vão ficando por opção própria. Aqueles que escolhemos para compartilhar os bons momentos e que aparecem sem convite nos maus. Aqueles que nos conhecem como ninguém e nos aceitam incondicionalmente. Aqueles que não nos julgam nem tentam aproveitar-se de nós. Porque no final, os laços de alma são bem mais importantes que os laços de sangue...
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4 comentários:
Concordo, embora nunca tenha dito á nossa avó que nao gostava dela, sei bem que tinhas razão pois também eu senti na pele as diferenças que falas... E embora nós estejamos " condenadas " a estar na vida uma da outra pelos laços familiares, também escolhemos estar bem presente na vida uma da outra... Somos Familia em todos os aspectos!!! E de facto nao tivemos muita sorte com alguns tios e primos...
Sou muito feliz por fazer parte da familia que escolheste! Gosto mesmo muito de ti!
Minha querida como bem sabes gosto muito de ti...gosto de ti quando estás cinzenta, gosto de ti radiosa e acima de tudo gosto de ti por seres tão honesta naquilo que dizes e defendes.
Os nossos laços são muito mais do que de sangue, e embora a distância seja grande ambas sabemos onde nos podemos encontrar.
E já agora...sou tua fã incondicional.
Que delícia de comentários! Sou uma sortuda por ter uma familia assim ;)
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