segunda-feira, 27 de maio de 2013

Some call it conscience, some a hangover...




“Eu caminhava e sentia-me cada vez pior. Talvez estivesse assim por ter lá ficado e não tivesse ido para minha casa. Era como prolongar a agonia. Que espécie de merda era eu? Podia, sem dúvida, fazer jogos falsos e sórdidos. Eu estava a tentar ganhar alguma coisa? Podia continuar a dizer-me que aquilo era apenas uma questão de procura, um simples estudo do universo feminino? Eu deixava apenas que as coisas acontecessem, sem pensar nelas. Só me interessava o meu pequeno prazer egoísta e barato. Parecia um menino de liceu mimado. Era pior do que uma puta; uma puta leva o nosso dinheiro e nada mais. Eu mexia com vidas e almas como se fossem brinquedos meus. Como é que podia considerar-me um homem? Como é que podia escrever poemas? Eu era feito de quê? Eu era um Marquês de Sade de segunda sem a sua inteligência. Um assassino era mais recto e honesto que eu. Ou mesmo um violador. Eu não queria que brincassem com a minha alma, que a gozassem, que a ridicularizassem; ao menos disto tinha a certeza. Eu não valia um tostão furado. Pude sentir isso enquanto percorria o tapete de um a outro lado. Nem um centavo. Mas o pior é que eu fazia passar-me por aquilo que não era – um bom homem. Eu entrava na vida das pessoas porque elas confiavam em mim. Fazia o meu trabalho de maneira mais fácil. Andava a escrever The Love Tale of the Hyena.

Fiquei de pé no meio da sala, surpreendido com os meus pensamentos. Dei por mim sentado à beira da cama, a chorar. Sentia as lágrimas correrem pelos meus dedos. O meu cérebro andava às voltas, mas não me sentia a enlouquecer. Não percebia o que estava a passar-se comigo.”

 

In, Mulheres, Charles Bukowski

3 comentários:

S* disse...

Isto é mesmo bonito, vou pesquisar.

Pulha Garcia disse...

O grande Deus Bukowski.

(esse trecho em particular bateu forte)

MisS disse...

S* este trecho pode induzir-te em erro... é um livro muito interessante mas de uma beleza muito bruta.

Pulha,
Um sacana sempre reconhece o seu semelhante!
(este trecho é brutal!e para mim um dos pontos cruciais do livro. Afinal acredito que todos temos uma consciência, mesmo os sacanas ;))