quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Onde estiveres, hoje pensei em ti...

 
 
 
Hoje o meu avô fazia anos. Foi o único avô que conheci, o outro, o materno, faleceu dois meses antes de eu nascer. Eu e o meu pai partilhamos memórias completamente antagónicas do meu avô. O meu pai fala de um homem severo, que criou dez filhos com mão de ferro. Um pai ausente, que impunha o respeito e a educação com o cinto que lhe segurava as calças. Um cristão convicto que impunha a religião em casa. Eu conheci um avó simpático, paciente para me responder a todas as questões que lhe punha, um engenhoca capaz de construir qualquer coisa. Um avô que me levava a passear, com a minha irmã, enquanto a ensinava a conduzir, no seu Sinka reconstruído por ele, com um estofo de cada qualidade  mas completamente automatizado. O meu pai guarda algum ressentimento do seu pai, eu guardo preciosas memórias do meu avô. Todos os anos ele organizava o passeio das netas. Só ele e as mulheres! (claro que isto tinha a ver com o facto de só ter 8 netas e quase 30 netos...) Metia passeio, almoço, pesca e claro o terço às seis e meia na Renascença. Eu tive a honra e o privilégio de me despedir do meu avô. Uns dias antes de ele falecer fui a casa vê-lo, cobriu-me de beijos, como se me quisesse recompensar por todos os que não me havia dado. À minha irmã, a sua neta preferida, deixou-lhe um conselho sábio: "nunca aceites menos de metade daquilo que mereces". Despedimo-nos e ele confidenciou-me que via uns anjinhos a pairar sobre a cama, disse-me que eram seres simpáticos que estavam sempre a sorrir. Saí com a noção clara que era uma despedida mas, acalentou-me saber que estava em paz. A minha avó esteve mais de 30 anos sem falar com o meu avô, viveram uma vida de aparência, de solidão, num clima quase irrespirável, onde os filhos tomavam as dores da mãezinha no entanto, na hora da morte o meu avô não tinha arrependimentos, remorsos, angústias, ele estava em paz e  via anjinhos! Eu sempre soube que ele era um bom homem...
 
Estejas onde estiveres, recebe um beijo meu*. Fazes-nos falta...

3 comentários:

Gija disse...

Sim o nosso avô David foi sem dùvida um grande homem, foi injustiçado toda a vida e nem por isso deixou de ser um homem e tanto!! Lembro bem dos passeios das netas e quando andava com ele de carro e ele o desligava e punha em ponto morto nas descidas para poupar gasolina, coisa que ele também ensinou á tua irmã para mal dos nossos pecados ( lembras-te?), sim tu de facto nao tiveste o privilegio como eu tive de conhecer o nosso outro avô o Zé, pessoa que ate hoje mais me custou perder, mas nós podemos dizer que tivemos muita sorte com nossos avôs pois foram os dois excelentes pessoas, daquelas cuja partida deixa sempre muita saudade e muita magoa de eles já nao estarem entre nòs...
Também eu deixo aqui meu beijo para o avô David!

Pulha Garcia disse...

Percebo. A minha avó O. é e sempre foi a minha pessoa número um. Mesmo agora, perdida na senilidade.

Mona disse...

O Avô David a minha pessoa preferida na família paterna!