segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Tu...

Se tu viesses ver-me de Florbela Espanca
 
«Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
 A essa hora dos mágicos cansaços,
 Quando a noite de manso se avizinha,
 E me prendesses toda nos teus braços...
  
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... O eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... Os teus abraços...
Os teus beijos... A tua mão na minha...
  
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de sede vermelha e canta e ri
 
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os meus olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...»

 
IV de Florbela Espanca
 
« És tu! És tu! Sempre vieste, enfim!
Oiço de novo o riso dos teus passos!
És tu que eu vejo a estender-me os braços
Que Deus criou para me abraçar a mim!
 
Tudo é divino e santo visto assim...
Foram-se os desalentos, os cansaços...
O mundo não é mundo: é um jardim!
Um céu aberto: longe, os espaços!
Tudo o que é chama a arder, tudo o que se sente,
Tudo o que é vida e vibra eternamente,
É tu seres meu, Amor, e eu ser tua!»
 

O maior bem de Florbela Espanca
  
«Este querer-te bem sem me quereres,
Este sofrer por ti constantemente,
Andar atrás de ti sem tu me veres
Faria piedade a toda a gente.
 
Mesmo a beijar-me, a tua boca mente...
Quantos sangrentos beijos de mulheres
Pousa na minha a tua boca ardente,
E quanto engano nos seus vãos dizeres!...
 
Mas que me importa a mim que me não queiras,
Se esta pena, esta dor, estas caseiras,
Este mísero pungir, árduo e profundo,
 
Do teu frio desamor, dos teus desdéns,
É, na vida, o mais alto dos meus bens?
É tudo quanto eu tenho neste mundo?»
 

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