quinta-feira, 4 de abril de 2013

memorize it...



Há dias, enquanto desfrutávamos de um fim de tarde em Miramar, a respirar o ar salgado e a descomprimir depois de um dia de trabalho, uma amiga, que partilhou comigo os bancos da escola desde o oitavo ano até ao último da faculdade, perguntava-me se eu me recordava da defesa da tese dela. Contava-me que não tem memória absolutamente nenhuma desse dia o que faz com que tenha  o sonho recorrente em que descobre que não é licenciada, que nunca chegou a concluir o curso. Brincamos com ela, até porque guarda algumas recordações fotográficas de momentos absolutamente inócuos e banais, um pouco tontos até, como no 9/11, quando tentou afincadamente convencer a muito desesperada J. a não estudar mais para o exame do Canotilho porque ia rebentar uma guerra mundial e, "Hei! de que vale o Direito quando do céu chovem aviões?"
Curioso isto da memória. Do que o nosso cérebro escolhe para guardar ou do que rejeita para não mais recordar, ou até do que decide reformular e arquivar numa versão mais interessante que a original. Pessoas, datas e histórias passam pela nossa vida ficando apenas algumas. Nem sempre as mais importantes, nem sempre as mais felizes mas, aquelas que, o nosso inconsciente acha importante guardar e que assim, como uma manta de retalhos, fazem o filme mental das nossas vidas. As mais tristes, as mais decepcionantes, essas têm um tratamento especial. Feitas de uma matéria mais resistente demoram a degradar-se. Vão-se esfarrapando, deixando pedaços um pouco por todo o lado. Oportunamente, o tempo acaba por as diluir e o inconsciente a guardar apenas uma versão resumida. A versão que nos lembra que temos cicatrizes mas, que nunca devemos deixar de tentar, pois, um dia, tudo cicatriza...

2 comentários:

Ana ✈ disse...

O cérebro é um orgão fantástico (ou melhor, é "o" orgão)e a memória selectiva uma grande arma. Eu não me recordo de algumas fases da minha vida e acho que isso se passará um pouco com todos nós.

S* disse...

Todos temos essas cicatrizes... tardam a cicatrizar, continuamos a notá-las, mas um dia tornam-se quase imperceptíveis.