O Rali no Norte é:
- acordar às cinco da manhã,
- carregar o carro com comida e bebida,
- estacionar muito longe do troço
- andar quilómetros a pé,
- ver o povo que dormiu ao relento despertar, a acender os fogareiros, a grelhar as fêveras para o pequeno almoço, as dezenas de garrafas de cerveja perfiladas como troféus
- ver o povo que dormiu ao relento despertar, a acender os fogareiros, a grelhar as fêveras para o pequeno almoço, as dezenas de garrafas de cerveja perfiladas como troféus
- chegar ao troço 4 horas antes e não haver lugar junto às fitas
- partilhar farnéis, provar o vinho e o presunto do grupo ao nosso lado que insiste pois é caseiro e não há melhor.
- esperar horas debaixo de sol ou chuva enquanto o povo canta o hino, encena a onda, conta anedotas, partilha histórias, e um artista compõe música com uma motosserra...
- chegar a casa muito suja e muito cansada.O Rali no Sul é:
- acordar às 8 da manhã;
- estacionar ao lado do troço;
- ter lugar junto às fitas
- almoçar na tenda do ACP;
- descansar na esplanada debaixo de um guarda sol, junto ao ecrã gigante enquanto vemos as outras classificativas;
- ver a segunda passagem
- sair descansados do parque de estacionamento e chegar ao hotel ainda a tempo de desfrutar o final da tarde.
- ir à marina de Vilamoura à noite e sentar numa esplanada ao lado de um piloto que admiras.
Para o ano o Rali regressa ao norte. Se estou feliz? Muito. A essência do rali, aquilo que me faz gostar e vibrar por este desporto, é vivida com muito mais intensidade a Norte. Assistir àquele espectáculo rodeado de milhares de pessoas que partilham a mesma paixão sobrepõe-se ao conforto. É um pouco como ver a bola no estádio ou sentados em casa no sofá.
Ao longo destas 7 edições do Rali de Portugal a sul, assisti ao enamoramento dos algarvios e dos alentejanos por este desporto. No primeiro ano, olhavam, da soleira da porta das suas casas caiadas, com alguma desconfiança para os fãs, de aspecto duvidoso e com grande teor alcoólico, que invadiam os seus montes e perturbavam a sua paz. Mas, o rali é uma festa, onde não há rivalidades nem lutas ou disputas entre aficionados. Todos torcem essencialmente pelo espectáculo em si, o que torna este um desporto único. Portugueses, espanhóis, finlandeses, noruegueses, ingleses, alemães, japoneses, todos convivem animada e pacificamente. Aquele povo aprendeu a gostar também desta festa e soube receber muito bem o rali. Ontem, a D. Olímpia, uma simpática alentejana que habita num monte perdido algures pelos lados de Almodôvar, e que resolveu fazer o almoço de Domingo junto ao troço para ver a festa, contava-me que estava muito triste por perderem o rali que ela já tanto gosta. Dizia-me que passou a semana toda a rezar a nossa Senhora para que ninguém se magoasse, pois "isto é muito bonito mas também muito perigoso". Sentia-se a nostalgia dos portugueses do sul à partida do rali (não serão alheios os 50 milhões de euros de retorno só em hotelaria...), o desporto que aprenderam a gostar, a explorar, a entender. (Eu também terei saudades daquela paisagem, absolutamente assombrosa, com os montes coloridos, e um verde de uma tonalidade muito diferente do meu Minho.) Mas, é hora de o rali regressar a casa. Obrigado Algarve. Até já Norte!
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