Não sou de esquerda mas, gosto de ler sobre as suas teorias. Ali, em texto, em palavras desenhadas tudo parece perfeito. Uma sociedade igualitária, uma quase anarquia perfeita onde todos saberiam o seu papel e lugar na sociedade, sem necessidade de reguladores, de hierarquias. O paraíso, antes de Eva morder a maçã. Mas, a realidade é bem diferente dos ideais que nos pintam. A sociedade é formada por pessoas, todas elas muito diferentes que nunca constituirão uma massa igualitária. A prova disso mesmo está plasmada nos regimes comunistas existentes, onde as desigualdades sociais são ainda mais gritantes do que nos países ditos capitalistas (por favor, não se deixem enganar pelo fato de treino do líder). No Le Monde Diplomatique vem um artigo de opinião onde, alavancado numa expressão de Américo Amorim (aparentemente um vilão por ser o 2º homem mais rico do país), expõe o que rotula de "capitalismo português, medíocre e riscofóbico". Comecemos por colocar as cartas na mesa. Eu defendo que todas as pessoas devem ter direito a viver a sua vida com a dignidade que a sua condição humana lhes impõe. Isto pressupõe educação, saúde e justiça de acesso universal. Tudo o resto deve ser conquistado com o suor e o talento do trabalho de cada um. Não acredito numa distribuição igualitária quando não há um esforço igualitário.
Todos estes anos de socialismo deixaram-nos uma herança muito mais pesada que as PPP's. Deixaram-nos um país terciarizado. Venderam-nos a ideia de que poderíamos viver dos serviços e que cada um podia ser patrão de si mesmo. Habito naquela que já foi uma das zonas mais industrializadas do país e assisti à morte de milhares de indústrias muito por culpa do poder politico. Aos patrões dificultaram-lhes a vida com legislações ferozes e impostos parasitários. Aos trabalhadores deram-lhes incentivos para abrirem os seus próprios negócios. Os cafés e cabeleireiros cresceram como cogumelos. Cogumelos envenenados que agora mirram, por falta de clientes. Nada se produz e todos vendem o mesmo. É o que acontece quando em vez de ensinar a pescar dão o peixe. Ainda hoje, e com mais de um milhão de pessoas no desemprego, é muito difícil para uma fábrica recrutar um trabalhador. A hierarquização não é um conceito mau, pelo contrário, é a pedra basilar de todas as relações sociais. A esquerda tem de abandonar de uma vez por todas a imagem do patrão como razão de todos os males. O problema não está na profissão mas, na natureza ética e moral de cada um e a verdade é que a falta de escrúpulos afecta qualquer categoria. A redistribuição da riqueza deve ocorrer de forma natural e com base no trabalho e esforço. Porque só damos valor àquilo que conquistamos e nunca ao que nos é entregue de mão beijada. O artigo exorta ainda o trabalho dos sindicatos na redistribuição da riqueza, é um facto inegável a importância destes na história da conquista dos direitos dos trabalhadores mas, a realidade de hoje mostra-nos organizações bem menos unânimes. Se pensarmos que o sindicato dos trabalhadores da CP, por exemplo, que organiza greves semanais, em nome daqueles que auferem salários muito acima da média nacional, e privam, com essa mesma greve, os assalariados mínimos de cumprirem o seu horário, poderemos falar em justiça social? Querem os sindicatos dos maquinistas, dos estivadores, dos professores realmente falar de injustiça social? De redistribuição da riqueza?
Sei que para os intelectuais e, mesmo para os jornalistas, é mais fácil defenderem os ideais de esquerda. É uma espécie de alter ego consciencioso. Pena é esquecerem-se de ter em consideração os exemplos que a história nos deixou. Porque a ciência e economia politica são indissociáveis das ciências sociais. E assim se perpetuam ideais utópicos e irrealistas...
Sei que para os intelectuais e, mesmo para os jornalistas, é mais fácil defenderem os ideais de esquerda. É uma espécie de alter ego consciencioso. Pena é esquecerem-se de ter em consideração os exemplos que a história nos deixou. Porque a ciência e economia politica são indissociáveis das ciências sociais. E assim se perpetuam ideais utópicos e irrealistas...
8 comentários:
Sendo assim, se a sociedade não é tendencialmente igualitária, é assumidamente composta por classes?
Por mim tudo bem, se me deixarem ficar na minha. Fico então à espera que comeces a primeira campanha política com os motes:
- não, o seu filho não vai ser Dr.!
- se quer ver futebol, vá para o café ou à Worten!
- anda de autocarro que não enjoas!
As teorias de esquerda são realmente teorias muito boas não passando infelizmente de teorias.
Seria óptimo vivermos num mundo onde a distribuição de riqueza fosse igualitária, onde todos tivéssemos acesso a tudo mas infelizmente tal não é possível nem viável. Mas a culpa de uma sociedade cada vez mais díspar é do estado.
Seria bom viver na ilha de Thomas More..
Bom texto.. Guimarães em alta :)
RCA isso de serem todos doutores é a maior estupidez dos últimos anos, vamos andar a manter os meninos todos na universidade só porque é bonito e todos são Drs., o menino é estúpido que nem uma porta mas deus nos livre de o menino tirar um curso profissional e ser electricista ou carpinteiro ou sei lá mais o quê. Depois acaba o curso, ao fin de 7 ou 8 anos, e vai para a desemprego. Se fosse electricista ou carpinteiro se calhar tinha trabalho e qual é o drama de o menino ter uma profissão digna e poder sustentar a família em vez de viver à custa dos pais?
Andamos todos a pagar bolsas para que os meninos todos possam ser Drs., em vez de dar uma reforma decente a pessoas que trabalharam toda a vida e nem dinheiro têm para medicamentos.
Bolsa para os meninos andarem a passear os livros e a apanhar bebedeiras.
Realmente a direita deixou-nos exemplos magníficos na história e então em Portugal uma maravilha.
RCA, independentemente do nome que lhe deres, a sociedade será sempre compartimentada e não o é apenas por razões económicas. Quanto à parte do ser doutor, digo claramente no texto que defendo o acesso universal à educação. O que não acho é que um canudo seja sinónimo de direitos adquiridos. Há que provar ter valor. A parte do futebol e do autocarro, confesso que não percebi.
Ana, concordo que o estado tenha parte da culpa na disparidade da sociedade mas, acho que o nosso maior problema é a desresponsabilização das nossas funções enquanto cidadãos. Lembramo-nos muitas vezes dos direitos e tendemos a esquecer os deveres. ;)
Anónimo, o que é que acha que um cambodjano responderia se lhe propusessem trocar a herança de esquerda deles por a nossa herança de direita?
MisS e Ana eu subscrevo inteiramente o Post, e já escrevi para caraças sobre isso, por exemplo:
http://gadoamarrado.blogspot.pt/2012/11/refundacao-do-estado-educacao.html
Parece-me é muito difícil reverter o que foi iniciado com o 25 do 4. A promessa que toda a gente tem direito ao mesmo. A ilusão que todos temos de ter carros novos, telemóveis última geração, LCDs e Sport TV. Quem é que vai mudar isso? Este governo está a tentar instalar os cursos profissionais outra vez, vamos ver no que dá.
A nossa herança de direita pré 25 de Abril? Vê-se bem que é muito nova.
RCA e restantes:TODOS DEVIAM TER DIREITO a CARROS NOVOS, LCD, TELEMÓVEIS e outras coisas o que não é necessário PARA TODAS AS PESSOAS é carros de luxo, telemóveis última geração, férias nas caraíbas, etc. Não tenho nada disso e sou muito feliz.Os meus pais também nunca tiveram e foram felicíssimos. Tivemos sim direito a cultura, saúde,um carro normal, um tlm de 10 anos, um LCD só há alguns meses pois a tv velhinha deu o berro, férias quando se pode e onde se pode e felizmente muito trabalho.E com ele conseguimos o que temos. O mal de agora é a competição. Se um amigo tem férias num local x, já querem um local x+y. O meu carro é melhor que o teu, o meu telemóvel ´faz mais coisas que o teu. Assim ninguém pode ser feliz.Por isso se toma tantos antidepressivos, se endividam tanto e até os suicídios têm aumentado duma forma assustadora.E, como diz o ditado quem tudo quer tudo perde.Se não for mais nada felicidade.
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