quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Porque há dias em que temos consciência da sorte que temos...


Esta carta, escrita pelo João Tordo, escritor, ao seu pai, Fernando Tordo, músico, no dia em que este emigrou para o Brasil em busca de uma vida melhor tornou-se viral nas redes sociais. É uma carta emotiva onde transparece todo o amor de um filho pelo seu pai, mas é também uma carta de revolta e crítica aos governantes, ao país e ao povo ao qual, aos 65 anos Fernando Tordo teve de virar as costas para procurar melhor vida. 
A leitura que fazemos das coisas é sempre condicionada pelo momento em que a lemos . Quando li este parágrafo "Os nossos governantes têm-se preparado para anunciar, contentíssimos, que a crise acabou, esquecendo-se de dizer tudo o que acabou com ela. A primeira coisa foi a cultura, que é o património de um país. A segunda foi a felicidade, que está ausente dos rostos de quem anda na rua todos os dias. A terceira foi a esperança. E a quarta foi o meu pai, e outros como ele, que se recusam a ser governados por gente que fez tudo para dar cabo deste país - do país que ele, e milhões de pessoas como ele, cheias de defeitos, quiseram construir: um país melhor para os filhos e para os netos. Fracassaram nesse propósito; enganaram-se ao pensarem que podíamos mudar. Não queremos mudar. Queremos esta miséria, admitimo-la, deixamos passar." a primeira coisa que me veio à ideia foi a actual situação da Ucrânia. Gente que acredita que pode fazer um país melhor. Gente que luta, disposto a dar a própria vida para conquistar o país que querem. Gente que aguenta 40 graus negativos, sem arredar pé há vários meses, numa praça, para que a sua voz seja ouvida. Eu não tenho o país com que sonhei. Tenho o país que é possível ter, dado os condicionalismos. Tenho o país que muita gente, de outras nações sonha ter. Tenho o país que me deu o que eu precisei para fazer o meu caminho. Tenho o país que me dá a oportunidade para lutar por uma vida melhor.Tenho um país que foi melhor para mim do que para os meus avós. Tenho um país que não me sustenta, mas que me ampara quando preciso. Tenho um país que me dá liberdade para sair, mesmo tendo investido milhares de euros na minha formação. Tenho o país que se ergue de cada vez que cai. Tenho o país de gente que arregaça as mangas e faz o que tem de ser feito, quando tem de ser feito. Tenho o país que me dá liberdade para dizer o que quero, mesmo que seja a maior barbaridade.Tenho o país de gente indecisa mas que sabe bem o que não quer, e nunca quis o comunismo, mesmo cantado. Tenho o país que vive em democracia, mesmo que esta não passe de uma tirania de maiorias. Tenho o país das gentes pacatas, que acreditam no fado. Tenho o país de muita gente boa e alguma gente má. Tenho o país que permanece na memória de quem parte. Tenho o país ao qual sempre regressarei. Tenho o país onde me é permitido ser feliz e alimentar a esperança de que o meu trabalho vai dar frutos.Tenho o país que, com as minhas acções de todos os dias, construo para mim. Porque Portugal não é de quem o governa, é de todos os portugueses, e Portugal não é o que dizemos sobre ele, mas o que fazemos por ele e, se não estás feliz com o teu Portugal, é porque não estás a fazer algo bem. 

Ao Fernando Tordo e a todos os que tiveram de sair do seu país para procurar uma vida melhor, a maior das sortes. Portugal torce por vós!



2 comentários:

Cristina disse...

Obrigada!

Inês disse...

Dói-me a alma ao ver a Ucrânia praticamente em guerra (não tenho dúvidas de que vão carregar em força nos manifestantes), mas raios partam os fundamentalistas. E custou-em tanto ver imagens das crianças a segurarem os sacos de plástico, para onde estavam a mandar as pedras do passeio. Caramba....são crianças.