sábado, 12 de janeiro de 2013

50.000


Cinquenta mil pessoas já se deram o trabalho de assinar a petição para o não abatimento do cão que matou o pequeno Dinis, um bebé de 18 meses. A petição defende a reabilitação do cão e reclama uma justiça igual para pessoas e animais. Uma justiça que o pequeno Dinis nunca terá...
 
Assusta-me pensar para onde vai esta sociedade...

9 comentários:

RCA disse...

Até agora eu estava convencido que abatia-se qualquer cão que atacasse um ser humano, matasse ou não.

Julgo que não tem tanto a ver com o abuso de poder das pessoas sobre os animais, mas mais com aquela coisa de ser mais ou menos impossível falar com um cão para perceber o que aconteceu e ter a certeza que não se repete.

Sílvia disse...

Miss S, neste caso, e a meu ver, a sociedade vai para o sitio certo. Trata-se de saber, antes de abater o bicho, a verdade. Se fosse um caniche que tivesse mordido o miudo (porque os cães pequenos também mordem) seria abatido? Não matava, é certo, mas apenas por ser pequeno, se calhar seria o cão certo para estar junto de uma criança pequena e quem deveria ver isso era a familia.

Uma coisa é ir alguem (criança ou adulto) na rua e vir um cão do nada e atacar a pessoa. Outra coisa é em casa, uma família ter um cão que sabe ser de raça supostamente perigosa, junto com uma criança de 18 meses. Saber que um cão desse porte não pode, nem deve estar preso numa casa, muito menos num apartamento. Saber que o cão está na cozinha às escuras, possivelmente a dormir e deixar um bebé de 18 meses ir para lá.

Os meus tios têm dois boxers e uma criança de 15 meses em casa, nunca o deixam sequer aproximar dos boxers (e esses nem sequer são dos mais perigosos), miudo dentro de cass, cães lá fora.

As coisas têm que ser devidamente esclarecidas e responsabilizar quem deve ser responsabilizado, porque se apenas se abater o cão, os donos daqui a nada voltam a ter outro cão de raça perigosa, o cão eventualmente volta a matar e andamos nisto.

Depois toda a situação é estranha, logo tem que ser esclarecida.
1 - Quem deixa uma criança andar sozinha pela casa, às escuras, com um cão perigoso na mesma casa?
2 - Desde quando as crianças se dirigem para o escuro. As que eu conheço têm medo do escuro e afastam-se.
3 - Porque ninguém chamou uma ambulância, optando por levar a criança no proprio carro sem chamar qualquer autoridade?
4 - Se tu estivesses a dormir, e te caisse algo em cima qual seria a tua reacção? Não morderias, é obvio, mas defender-te-ias, talvez agarrando o que te estava a cair em cima. Um cão não pode agarrar, se realmente mordeu, ao que parece o miudo morreu com um TCE por mordedura, quem deveria estar a tomar conta do miudo?

Agora vamos supor que se abate o cão, que ninguém liga e ninguém pressiona para se esclarecer o que realmente aconteceu, e que eventualmente estamos perante um caso de negligência de quem deveria estar a cuidar da criança, e também de negligência perante o animal, que também tem que ter quem cuide dele? Pior, e se até estivessem a tentar ocultar algo pior do que negligência? Se o TCE não foi por mordedura... O TCE pode ter sido apenas pela queda, e aí há negligência, pode ter sido por um estalo mal dado, e aí há homicídio. Não faço ideia, mas o que é certo é que tem que ser esclarecido, não se pode culpar a vida toda as "raças perigosas".

O cão se legalmente tiver que ser abatido será, mas eu acho que aqui se trata de saber sobretudo a verdade, e se chamar a atenção para esta problemática... Quem não pode, ou não sabe ter cães desses que não tenha.

Sílvia disse...

Circula na net um texto muito interessante acerca disto:

"Duplamente triste

Começou ontem a saga da criança que alegadamente foi atacada por um cão, de raça considerada perigosa. Hoje, estou duplamente triste, pois dois seres vivos encontraram a morte. A criança morreu e o cão está no corredor da morte. Duplamente triste.

Muita gente, com certeza, vai espumar e ficar indignada com esta crónica. A raiva e a fúria toldam a razão. Primeiro, gostaria de não ter de escrevê-la, de todo. Depois, gostaria de a escrever noutras circunstâncias que não após a morte de uma criança. E isso acontece precisamente porque decidi não a escrever no calor do momento, quis esperar que o meu discernimento tranquilizasse e me permitisse tratar este delicado e triste assunto com justiça. Justiça para a criança e para o cão.

E para que a justiça impere é necessário saber o que realmente aconteceu. Nada se disse sobre isso. Em todos os noticiários os mais básicos critérios jornalísticos foram atropelados, não foram cumpridos. Aquilo que qualquer jornalista deve aprender na primeira lição de jornalismo falhou redondamente ao não serem respondidas as seis perguntas fundamentais: ficámos a saber “quem”, “quando” e “onde”, ficámos com sérias dúvidas em “o quê”, o “como” e “porquê” ficaram sem resposta, porque nem sequer foram questionados.

Após várias notícias em diversos meios de comunicação, continuei sem saber o que realmente tinha acontecido. Sabia apenas que “um cão” tinha “atacado uma criança de 18 meses em Beja”, que esse cão era da família e conviveu pacificamente durante nove anos, que a criança tinha um traumatismo crânio-encefálico, e que o cão fora levado para o canil onde será abatido após os oito dias legais. Como? Porquê? O que aconteceu?

De que forma o cão atacou a criança? Um traumatismo crânio-encefálico é geralmente fruto de uma queda/pancada. Se um cão como o referido, possante, atacasse alguém de forma viciosa e agressiva, principalmente uma criança, os ferimentos por laceração seriam graves. Só foi sempre mencionado o traumatismo.

É uma criança, é trágico e triste, mas isso não cessa o dever de questionar e informar acima de qualquer suspeita. Ninguém perguntou como foi o ataque? Em que circunstâncias e como ocorreu? Investiu agressivamente e mordeu? Correu para a criança, derrubando-a e fazendo com que batesse com a cabeça no chão, provocando o traumatismo? Como foi?

Foi esta a informação que tivemos.

Esta informação não me chegou, mas eu não sou a maior parte da população. Para a maioria, diria a esmagadora maioria, esta informação chegou e estava dito tudo o que era preciso ouvir: um cão atacou uma criança, que foi para o hospital em estado grave.

Procurei mais dados. No meio do jornalismo-papagaio encontrei finalmente uma notícia “quase” bem construída, pelo menos uma notícia que explicava relativamente os factos.

O cão afinal atacou a criança? Não.

“O animal pertence a um tio do menino, que vive na mesma casa com os pais e os avós da vítima. Em declarações aos jornalistas, o avô da criança, Jacinto Pinto, disse que o cão estava «às escuras» na cozinha da casa quando o menino foi àquela divisão e «caiu-lhe em cima» e o animal atacou-o. O que aconteceu «não tem explicação» porque o cão «era meigo», «sempre conviveu com crianças» e em nove anos de vida «nunca» antes tinha atacado ou feito mal a alguém (…)”, in www.publico.pt

“O miúdo caiu em cima dele e ele atacou”, são palavras de Linda Rosa, a veterinária municipal de Beja que adianta uma declaração incompreensível: “Como ou porquê ao final de nove anos de convivência com a família? Está na natureza de todos os cães, particularmente estes cruzados de raças potencialmente perigosas, como o pitbull”. Uma pérola de sabedoria nestas palavras.

...

Sílvia disse...

... (cont.)

Senhora veterinária, se a senhora fosse um cão, estivesse deitado num quarto às escuras e lhe caíssem em cima, mesmo que fosse um Yorkshire miniatura iria com certeza reagir!

Quando foi recolhido pela Câmara, e segundo o testemunho da veterinária municipal, o cão “estava bem tranquilo e não mostrou agressividade nenhuma”.

Não sou uma “dog person” e sinto muito respeito por cães possantes e de grande porte. Mas sei que o primeiro e principal problema comportamental da esmagadora maioria dos cães tem um nome: dono. E por coincidência, apesar de ter todas as provas de ser um animal dócil, Jacinto Pinto, o avô, confessou que estava “desejando” que o animal fosse abatido e que “há uma ano e tal” tinha ido à AMALGA (N.A. vulgo canil municipal) para o tentar abater, porque “não tinha condições para ter o cão em casa”. Palavras para quê…?

Na imagem, viu-se um cão com aspecto submisso e tranquilo, com a coleira de tal modo presa às grades que não conseguia mover a cabeça. Não se viu ponta de agressividade. E a mim, que tenho a péssima mania de pensar, tudo me parecia tão estranho, tão mal contado. E estava.

Compreendo a angústia dos pais da criança. A mesma angústia que sentiriam se o filho fosse empurrado por outra criança e caísse e batesse com a cabeça e ficasse gravemente ferido.

Que pena o cão não ter pais.

Que pena a criança ter morrido.

O cão, esse está no corredor da morte, e a sentença não estava dependente da sobrevivência ou não da criança, pois seria morto e ponto final. Não se trata de um violador de crianças cuja pena é mais leve se a criança abusada não morrer, e que é protegido por guarda policial, e que tem uma cela confortável onde não fica preso pelo pescoço.

O cão morreu no momento em que declararam o presumível ataque. Porquê? Alguém sabe? Alguém tentou saber?

Ah, já me esquecia… é só um cão.

E no meio de toda esta tragédia, de toda esta desgraça… como se deixa um bebé de 18 meses entrar sozinho numa cozinha escura onde está um cão a dormir…?"

Sílvia disse...

Outa coisa que seria interessante ler, já agora: http://amo-osanimais.blogspot.pt/2013/01/esta-na-natureza-deles.html

Sílvia disse...

"O que todos esses pretensos sábios, filósofos e líderes mundiais sabem a seu respeito? Eles se convenceram que o homem, o pior transgressor dentre todas as espécies, é o ápice da criação. Todos os outros seres foram criados somente com o propósito de servirem à humanidade, podendo, com isso, ser atormentados e exterminados. Em relação a eles, todas as pessoas são nazistas; para os animais o mundo é uma eterna Treblinka." (Isaac Bashevis Singer)

Eu sinto imensa pena pelo miudo ter morrido. Mas acho que a verdade tem que ser esclarecida e as pessoas responsabilizadas, porque um cão é como uma criança, os adultos e reponsáveis é que têm que cuidar de ambos.

Sílvia disse...

E já agora, um outro exemplo, o meu falecido padrinho (morreu de doença) tinha um rafeiro pequeno há anos, nunca fez mal, ele adorava o cão e o cão a ele, tanto que o bicho morreu pouco tempo depois dele. E um dia o meu padrinho caiu-lhe em cima, e ele mordeu-lhe na cara.
E não, gado, não foi abatido!!

Eu acho que o que estão a tentar fazer, precisamente, é a pedir justiça para o Dinis (a verdade traz justiça) e para o cão.
A vida é que já ninguém lhe dá (quer o cão seja abatido, ou não), infelizmente.

MisS disse...

Sílvia, eu apenas acho que o assunto não merece tanta discussão e acho ridículo que o país em estado de emergência social andem todos preocupados com o Zico.

Sílvia disse...

Compreendo-te. Mas eu acho que não é com "o Zico", mas 1º com a situação em si (apurar a verdade), e depois com o constante "culpar" das raças perigosas e nunca dos donos, responsabilizar os donos, para que estes pensem duas vezes antes de querer ter um cão destes apenas para mostrar.