sexta-feira, 3 de maio de 2013

Ocupa-te, não te deixes ocupar





Fui criada numa casa muito grande. Onde o barulho do ranger do soalho (que hoje adoro e me remete para esses tempos) me assustava, onde o alçapão na cozinha, que dava acesso à adega, era uma passagem secreta para a aventura, onde as escadas apertadas em caracol, que davam para o sótão, remetiam para o imaginário, onde tinha o quartinho de brincar que era também onde a minha avó escondia, num buraco cavado na parede, o dinheiro das emergências e o ouro de família. Mudei-me depois para uma casa mais pequena mas, ainda assim grande. Onde tinha medo de ficar sozinha e todos os barulhos me assustavam, onde passava dias sem entrar em algumas divisões. Em Coimbra, na minha casinha de bonecas junto à Sé Velha, descobri a maravilhosa experiência de viver numa casa pequena. Um local aconchegante com o espaço suficiente para nos impedir de acumular demasiada tralha. Um espaço que exige pouco de nós, que não nos aprisiona na sua grandeza. Que nos sirva ao invés de nos fazer servos. 
Isto a propósito de um artigo muito bom aqui  e que conta o extraordinário percurso de Graham Hill desde o seu palácio de 1100 metros quadrados para um apartamento de 130. Os argumentos deste arquitecto são muito válidos e o pormenor da sua história de amor com a Olga, a andorrana que lhe roubou o coração e o ensinou a viver com menos, delicioso: I wouldn’t trade a second spent wandering the streets of Bangkok with Olga for anything I’ve owned. Often, material objects take up mental as well as physical space.
O seu apartamento não me conquista, é que isto de ter a cama enfiada na parede não é, definitivamente, para mim (se há coisa que deve ter fácil acesso é a cama...)! mas faz-nos pensar sobre o espaço que ocupamos no mundo e como deixamos que o espaço ocupe o nosso mundo. Porque no fim tudo se resume ao tamanho da tua vida não do teu espaço.



 

2 comentários:

M. disse...

Adoreii o post!

MisS disse...

Obrigada Ariana! :)