quarta-feira, 10 de julho de 2013

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Todos os dias quando abro o facebook,  há alguém que tem uma imagem ou uma frase de Nelson Mandela. Invariavelmente, sempre que vejo penso, o senhor já morreu. Depois, ao consultar as notícias constato que não, Madiba ainda está agarrado por um fio ao mundo dos vivos. Nelson Mandela, é provavelmente a figura histórica do nosso tempo que mais admiro, por tudo o que conseguiu para o seu povo mas, sobretudo pela convicção com que sempre defendeu o que acredita. Para mim, é esta característica que separa os homens dos gigantes. (Curiosamente é também o que mais admiro em Jesus Cristo). Não é fácil lutar pelo que se acredita, não é fácil estar sozinho num canto com as nossas convicções, não é fácil resistir ao apelo da maioria, não é fácil enfrentar as consequências, por vezes fatais, da defesa das nossas crenças. Poucos são os que conseguem, Madiba fê-lo como raros. A biografia de Mandela, mostra-nos demasiadas dores. O cárcere prolongado, a perda da mãe que morreu a acreditar que tinha um filho criminoso, a amputação de um filho, a incompreensão dos outros, os casamentos desfeitos e amores perdidos. Madiba escolheu o caminho mais difícil para a felicidade. Podia ter seguido a fórmula de toda a gente. Podia ter ganho muito dinheiro, ter-se dedicado à família, e aos prazeres mundanos, em vez disso optou por se dedicar a um povo e a deixar para a história o seu exemplo. Apesar de tudo , e de uma maneira que poucos entenderão, foi feliz. Assim o creio, assim ele nos faz crer. O mundo não está preparado para perder Mandela, nunca estamos preparados para perder os nossos heróis. Sabê-los vivos é desresponsabilizar-nos das nossas funções, é acreditar que alguém resolverá os nossos problemas. Um herói cria 1000 parasitas. É esse o grande problema dos heróis. Madiba merece o repouso, a paz do fim da linha, não o circo mediático que se montou à porta do hospital, as recorrentes especulações sobre o seu estado, ou o pânico que paira nos bairros mais pobres da África do Sul, ou o histerismo e a adulação. A melhor forma de honrar Madiba é seguir-lhe o exemplo e lutar pelo que acreditamos, mesmo quando isso nos parece a mais difícil das missões.

“I am fundamentally an optimist. Whether that comes from nature or nurture, I cannot say. Part of being optimistic is keeping one's head pointed toward the sun, one's feet moving forward. There were many dark moments when my faith in humanity was sorely tested, but I would not and could not give myself up to despair. That way lays defeat and death.” 
Nelson MandelaLong Walk to Freedom: Autobiography of Nelson Mandela

6 comentários:

S* disse...

É dos homens mais altruístas que já tive o gosto de conhecer, embora o conheça apenas pela televisão.

RCA disse...

Hmm... não sei como é que hei-de dizer isto, mas esse tal de madiba é o mesmo que utilizou meios terroristas?

Inês disse...

Mandela é único, mas sou-te sincera: penso que o mantém vivo por causa da questão do local do enterro...
E pergunto-me muitas vezes o que vai ser da África do Sul quando perder o seu maior líder.

MisS disse...

esse mesmo RCA. Talvez não compreendas o que vou dizer mas, acho que por vezes temos de falar a mesma língua daqueles contra quem nos opomos, mesmo que a linguagem seja a das armas. Não sou belicista mas nada nunca se conseguiu sem derramar sangue.

RCA disse...

Suponho então que seja uma questão de perspetiva, quem sabe de luz. Acabas portanto de legitimar os métodos da ETA, IRA, OLP, e se é para utilizar comuns e não nos preocuparmos com as conseqências, o nazismo como reação à asfixia provocada pelas dívidas da WWI, ou quem sabe os khmer rouge.

Matar inocentes por fins políticos não é um ato de guerra ou de bravura, é um assassinato

MisS disse...

RCA, esta era uma discussão para ter À volta de um prato de tremoços, pá!
Eu não legitimo a acção terrorista desses grupos mas não me choca que, em algum momento da luta, Mandela tivesse recorrido às armas. Era uma batalha desigual, e a luta pacífica não havia conseguido nada, além dos reconhecimentos internacionais de bons pacifistas. Mas, acredito que a força e perseverança do homem foram bem mais decisivos que os atentados que provocou. No final das contas ganhou a luta pelos direitos do Homem, ganhou a liberdade e a igualdade.

Agora não misturemos alhos com bugalhos!