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segunda-feira, 24 de março de 2014

caminha como se nunca tivesse sido ferida...



Tu não controlas tudo. Recorda-te sempre disso. Nem tudo depende de ti. Por vezes a melhor coisa a fazer é pousar os remos e ir na corrente. Não adianta lutar contra. Vai haver sempre quem não goste de ti. Vai haver sempre quem deseje que tudo te corra mal. Vais encontrar sempre quem não te valorize, quem te destrate, quem tenha prazer em te magoar. Nem sempre vais ser feliz, mas podes sempre tentar. Pratica o desapego. Usa-te da indiferença. Relativiza tudo. Não dês importância a nada. Todos sabemos como é que isto acaba. Não dependas de ninguém. Não dês demais de ti a quem, ou ao que, não merece. Não te esgotes com o que não vale a pena. Não te martirizes com o que perdeste, provavelmente nunca foi teu. Desfruta o caminho, ao cortar da próxima curva pode muito bem estar o fim...



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A vida é uma puta que nada percebe de justiça



Hoje acordei com uma moedeira na cabeça. Aquela dor que não é muito forte mas que chateia, que nos deixa mal dispostos, com cara de poucos amigos. Estava bem de ver que o dia não ia ser fácil...
No início da semana uma amiga tinha-me pedido ajuda para uma família que está a passar por um momento muito delicado. Ontem chegou-me às mãos o dossier. Uma história trágica como muito outras. Um menino de dez anos a quem foi diagnosticado um tumor maligno no cérebro. Os pais, um casal muito dedicado ao único filho, o filho que muito desejaram e lutaram para conseguir foram completamente abalroados pelo triste diagnóstico. O pai caiu numa profunda depressão e perdeu o emprego, a mãe deixou de trabalhar para cuidar do filho. Às dificuldades da doença somam-se os problemas financeiros. A mim pediam-me que tentasse arranjar uma cadeira de rodas infantil, era essa a prioridade dos pais pois dela depende o bem estar do seu menino. Fiz dois telefonemas. Primeiro consegui a cadeira, com o segundo telefonema tratei de assegurar que a família tivesse acesso ao apoio domiciliário de uma cantina social, por forma a assegurar a alimentação diária dos 3. Enviei uma sms à minha amiga a dizer que estava tratado e arrumei o assunto. 

Hoje a família achou por bem vir agradecer-me pessoalmente a ajuda. E o dossier ganhou um rosto. Dois, para ser mais exacta, mãe e filho, marcados pelas dores da doença mas com o brilho da esperança. E o meu coração rasgou-se. Eu não fiz nada, na verdade limitei-me a incomodar quem tinha poder para resolver esta questão e estes apenas fizeram o seu trabalho. Mas ali estavam, à minha frente, os dois com uma gratidão inexplicável, com uma coragem hercúlea e sem um pingo de revolta por toda a injustiça que estão a viver. A comoção que senti quando tomei conhecimento da situação cedeu  lugar à revolta, à frustração. Que puta de vida é esta que trata assim uma criança, que desgraça assim uma família outrora feliz e funcional? E a dor de cabeça agudiza-se, forma-se um nó na garganta, instala-se um enjoo que me impede de almoçar. 
Desabafo o meu mal estar com uns colegas que me dizem em tom condescendente, "estás a ver, dá graças a Deus pela vida que tens!", mas em que realidade distorcida é que é suposto eu arranjar consolo na desgraça de outros? Tenho que ficar feliz com a minha vida, mesmo não tendo um décimo dos problemas que esta família enfrenta, só por saber que há outros em situação pior? Como é que se ganha alento com o mal dos outros? É que neste momento a única coisa que sinto, para além da dor de cabeça que anda aqui desde manhã, é medo, muito medo desta vida puta.





terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

25 de Fevereiro de 1920


Untitled

A tua ausência custa-me todos os dias. Custa-me olhar para o teu espaço, vazio, intocável, impossível de preencher. Faltas-me todos os dias, mas faltas-me ainda mais hoje, no teu dia, o dia em que te celebramos. Hoje agudiza-se em mim a contrariedade de sentidos. Sorrio porque te tive, choro porque já não te tenho. Sei que não te perdi, sei que onde estás, estás a olhar por mim, sinto-te a cada momento da minha existência, vejo a tua luz quando só a escuridão me rodeia. Tenho-te em mim mas, já não te tenho aqui. E fazes-me tanta falta... 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

eu perdoo...


Little Ele' from Zazzle.com

Qual o verdadeiro significado de perdoar? E não falo do perdão divino, ou do perdão fiscal. Falo mesmo daquele nobre acto de esquecer o mal que nos fizeram e pôr para trás das costas, o sábio "cagando e andando"... Nós perdoamos os outros pelo mal que nos fizeram, ou perdoamos a nós próprios como forma de seguir com a vida e não ficar preso a ressentimentos e mágoas? É por nós ou pelos outros? Perdoar significa esquecer? Perdoar significa que o depois seja igual ao antes? Perdoar é dar a outra face? Perdoar é sinónimo de fraqueza, ou é um sinal de superioridade? Perdoar pressupõe um pedido de desculpa, um arrependimento? Podemos perdoar mesmo os que acham que não nos magoaram? 
Não tenho as respostas, não sei sequer se há respostas universais. O caminho faz-se caminhando. Sim, é mais fácil quando deixamos estes pesos pelo caminho, mas custa ignorar algo que nos magoou tanto. É humano o apego à dor. Não é saudável o ressentimento mas é pedagógica a lembrança. E qual é o equilíbrio aqui? Esquecer e tornar-nos vulneráveis a outros golpes de igual intensidade ou recordar e tornar-nos impermeáveis a possíveis oportunidades? Como é que se equilibram todas estas bolas no ar? 

Já fui bem mais inflexível. O tempo tornou-me mole. Perdoo com relativa facilidade, e até esqueço, com o tempo (ou com Alzheimer que se vai instalando) mas, com o perdão vem também o desapego, o abrir mão. E, quando olho para trás e pergunto porque é que aquela pessoa saiu da minha vida? Então recordo, que, em algum momento tive de lhe perdoar algo. É aí que sorrio e sigo em frente.




terça-feira, 10 de dezembro de 2013

power to your people...



Todas as relações humanas se baseiam nos poderes que concedemos. Uma espécie de contracto social de Rousseau. Se simpatizas com alguém, concedes-lhe o poder de falar contigo, de interagir, de partilhar momentos. À medida que vais conhecendo e afeiçoando-te às pessoas vais dando mais e mais poderes. O poder de saber da tua vida, o direito de emitir opiniões, de dar conselhos, de partilhar alegrias e amarguras. Isto demora tempo a construir. Pressupõe convivências, partilhas, 
Viver é ir concedendo estes direitos a quem vai cruzando o teu caminho. Não é um contracto escrito, não é até, na maioria dos casos, um contracto consciente. São direitos que vão sendo adquiridos. Há os que os detêm por inerência, há os que os conquistam com o tempo e há aqueles que os arrebatam porque apareceram na nossa vida num momento cosmológico muito preciso. De todos os poderes que podes conceder, há um particularmente sensível: é o poder de te magoarem. E é aqui que tens de ter muito cuidado! Podes restringir esse poder apenas àqueles que mais te amam, o ideal seria se este poder fosse limitado à mãe e ao pai, ninguém te ama mais! Mas isso seria resumir demasiado a tua rede de pessoas. Há momentos em que os  pais não são suficientes. Precisas de mais. Olhas em volta e vês aqueles que sempre ali estiveram. Aqueles que aparecem repetidamente em todas as cenas da tua vida, das mais cómicas às mais dramáticas, das mais rotineiras às mais apaixonadas. Não há como lhes negar o direito a esse poder. É-lhes concedido por usucapião. Depois há os saltos de fé. Aquelas pessoas com quem sentes uma afinidade imediata. Com quem estabeleces uma ligação directa e quando dás por ti já lhes entregaste o código do Amex. É arriscado mas, não mais que viver.
Prepara-te para que, um dia, esse poder se vire contra ti. Prepara-te para a sua não reciprocidade. Prepara-te para que seja usado mesmo por aqueles que conheces como a ti próprio, e de quem nunca esperarias.  Prepara-te, pois vai doer, muito. Mas, se a alternativa é isolares-te do mundo, que te doa, pois assim saberás que, houve o dia , em que te soube...


(nota interna: a mona concorda...)


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

a ti, estendo a minha mão...




Conheço o lugar onde estás. É escuro, quieto, silencioso. O sol não brilha, a música não toca. A única vontade é a de fechar os olhos. Fechá-los com muita força. Encolheres-te a um canto e ficares ali, quieta, calada. Talvez a dor assim não chegue, talvez não te encontre na escuridão em que estás. 

Queres um conselho? Não deixes que a dor passe por ti. Recebe-a. Deixa-a preencher o vazio que te ocupa. Dá-lhe dois dias de atenção. Deixa-te afundar no lodo. Deixa as lágrimas rolar, deixa a tristeza assentar. Lava a alma, baralha tudo que te vai no pensamento. Depois levanta-te. Ergue a cabeça. A alma limpa, ideias arrumadas. Sacode a dor, como um cão sacode as pulgas. Chega de te dares a essa parasita. Respira fundo. E aí, olha-te ao espelho. Gosta-te como nunca ninguém há-de gostar. E recomeça. Segue o teu caminho, a tua busca pela felicidade. Não olhes para trás, não é lá que a vais encontrar. Não pares à espera de ninguém, segue o teu ritmo. Não corras, tens tempo, desfruta do que te rodeia. Não caminhes de olhos no chão com medo de tropeçar, o azul do céu é tão mais bonito que o cinzento da calçada. Não desistas, o paraíso é já ali. Afinal, o coração não parte, o coração pára e, apenas quando morremos. Não te deixes morrer. 

(adoro-te de alma e sangue. sabes que estarei sempre ao teu lado, em todos os finais, em todos os recomeços...)


terça-feira, 5 de novembro de 2013

reload




Estou cansada. Na verdade estou mesmo esgotada, exaurida. Não é um cansaço físico, como quando trabalhamos demais, ou aquele cansaço bom que nos inunda no final de um qualquer exercício físico. É um cansaço de alma, que consome, desgasta. É um cansaço de quem está prestes a desistir. De quem sente que não vale a pena, que é injusto. É um cansaço de quem não compreende, de quem não aceita um só porque sim, de quem acredita que tudo deve ter uma explicação mais esclarecedora.
É um cansaço de quem acha que merece mais e melhor. É um cansaço de quem apostou e perdeu, e voltou a apostar e voltou a perder. É um cansaço de quem deixou de acreditar que é possível vencer. É um cansaço de quem perdeu o rasto à esperança, de quem deixou de ver o céu. É um cansaço que dói, que magoa tanto que não deixa sequer espaço à aprendizagem. É um cansaço que obriga a parar, não a desistir, talvez seja ainda cedo para desistir...

Pára, obriga o teu mundo a parar por ti, reorganiza, repensa, reconsidera as prioridades. Ouve-te, vê o que precisas, recoloca-te em primeiro lugar. Gosta de ti de uma forma que mais ninguém gostará. Respeita-te. E depois, volta à luta...

 (e pelo meio tenta alegrar-te, afinal vais receber um postal do Cambodja...)

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

better than prozac, cheaper than therapy...



Todas as noites é a mesma coisa. Ela vai dormir acompanhada pelos seus demónios. Os seus fantasmas dançam alegremente sobre a sua cabeça deitada no travesseiro. Repetem, noite após noite a mesma coreografia, indiferentes ao constante virar e revirar dela na fria cama. E, por ali vão pairando, até que o corpo, exausto, cede e se entrega ao sono.
É então que nasce um novo dia, as dúvidas e angústias de ontem ficaram presas nos sonhos da noite que passou. Há uma nova página para escrever. A luz do sol, mesmo que tímido, e escondido pelas nuvens, dá uma nova perspectiva. Respira-se fundo. Há uma esperança renovada. Afinal, a vida é bela...


domingo, 6 de outubro de 2013

a desvanecer...


..."sentia-me derreter nas sombras como se fosse o negativo de alguém que nunca conhecera em toda a minha vida."


Sylvia Plath, A Campânula de Vidro


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

das palavras que podiam ser minhas...





Deve haver certamente algumas coisas que um banho quente não seja capaz de curar, mas eu não conheço muitas. Sempre que estou triste ao ponto de sentir a vida a fugir por entre os dedos, ou de tal modo nervosa que sou incapaz de adormecer, ou apaixonada por alguém que vou estar sem ver durante uma semana, digo para mim mesma: «Vou tomar um banho quente».
No banho, medito. A água tem de estar muito quente ao ponto de ser quase impossível pôr o pé lá dentro. A fase seguinte é a de nos enfiarmos dentro dela muito lentamente até ficarmos apenas com a cabeça de fora.
Recordo-me dos tectos de todas as casas em cujas banheiras me deitei. Recordo-me das suas texturas, das suas falhas, das cores, das manchas e das instalações luminosas. Recordo-me também das banheiras: antigas, grandes, com pés de grifo,das mais modernas em forma de caixão e das mais requintadas em mármore, semelhantes a lagos interiores. 
Não me sinto como se fosse eu que estivesse ali quando tomo um banho quente. 
Não acredito no baptismo nas águas do Jordão ou em coisas semelhantes, no entanto, acho que o banho quente deve estar para mim como a água benta para os religiosos.

Sylvia Plath, A Campânula de Vidro

sábado, 28 de setembro de 2013

ocos seremos....


É imensa a quantidade de alma que gastamos com coisas que não importam. Pequenos nadas, que ocupam um todo. Preocupamo-nos com coisas que ainda não aconteceram, que podem nem acontecer. Pintamos cenários de negro, quando a vida, no final do capítulo, dá um cinzento prateado. Sobrevalorizamos palavras em vez de actos. Esquecemos a quantidade de vezes que nos disseram "gosto de ti" mas recordamos com exactidão todos os momentos em que ouvimos "odeio-te". Lutamos por esquecer fantasmas que nos estão na carne. E, ao tentar esquecer, recordamos com mais intensidade ainda. Choramos perdas que são ganhos, porque ninguém gosta de perder. Esgotamo-nos ao lutar por não gostar de alguém, mesmo sabendo que esse alguém está já embrenhado em ti. 
E assim vamos consumindo a nossa alma, na ingénua ignorância de que é inesgotável. Até ao dia, em olhamos para dentro de nós, em busca de uma réstia de alma, que nos dê esperança, que nos ajude a ampliar a felicidade, a alegria de uma conquista já chorada e, apenas encontramos o eco de uma gruta oca...


terça-feira, 3 de setembro de 2013

um homem pode ser destruído, mas não derrotado...*



Margaux Hemingway by Helmut Newton for Vogue Paris, March 1975 




* Ernest Hemingway, O Velho e o Mar. 


Hemingway está no meu Olimpo de grandes escritores. Gosto do despretensiosismo com que escreve, da simplicidade, do realismo, da forma como prefere mostrar em vez de contar, muito típico nos escritores com raízes jornalísticas. Mas, gosto sobretudo da sofridão que as suas palavras têm impressas. Os relatos de Hemingway são temperados pela dor, e isso passa para o leitor. Uma análise transversal à biografia de Hemingway e teremos a sensação de que ele soube como gozar a vida. As festas, o convívio com outros intelectuais com quem privava e que marcaram a história das artes do século XX, conhecidos à época como a "geração perdida", as mulheres, as viagens, a aproximação do poder, o sucesso e o dinheiro, após a edição de "Por Quem os Sinos Dobram". Mas, tal como qualquer ser humano, e acima de tudo tal como qualquer bom artista, Hemingway vivia também atormentado. No seu livro A Moveable Feast, que tem muito de autobiográfico, Hemingway relata um período conturbado da sua vida passado em Paris, a falta de dinheiro, os trabalhos mal pagos, a fome, a insatisfação. Em determinadas passagens do livro é possível sentir a angústia do autor. Aquela angústia que sufoca, que desespera. Toda a obra de Hemingway é uma tentativa de exorcizar os seus fantasmas, assim como a pesada herança genética que pendia sobre ele. A forma como encarava a vida, sempre no limite (sobreviveu a duas quedas de avião) foi a forma por ele encontrada para conviver com o seu karma, para se sentir vivo. Em apenas três gerações, a família de Hemingway regista cinco suicídios - o pai, ele próprio, dois irmãos e mais tarde a sua neta (na foto). Todos escolheram o dia para acabar com a sua dor, todos foram deuses de si próprios.
É recorrente assimilar o suicídio de Hemingway, e dos seus familiares, a um quadro clínico bipolar, maniaco-depressivo e ao alcoolismo. As razões apenas ele as saberá mas, não choca que um homem que tenha vivido sempre no fio da navalha, um escritor que podia ser o herói das suas próprias narrativas, tenha escolhido sair do jogo no momento em que já não estava em condições para o jogar. Um suicida nem sempre é um doente. 

O suicídio nunca me chocou, sempre achei que cada um deve poder acabar o seu jogo quando bem entender, essa é a mais básica manifestação da liberdade. Para quem fica, é muito difícil de gerir, sabe a abandono, a desamor, a cobardia. Não é fácil aceitar, compreender. Fica a culpa de não ter feito mais, o desespero de nada poder fazer, a dúvida, os malditos "ses". A dor por constatar que há batalhas que valem mais que o amor...




terça-feira, 13 de agosto de 2013

guia-me...



Estou apática, amorfa. Pelo menos é que me dizem. A minha mãe vai mais longe e diz mesmo que estou demasiado pálida (pudera, 3 meses de Verão e apenas uma ida à praia, não há milagres!) e magra, como que antecipando uma qualquer doença, grave, sempre grave, mesmo ao seu jeito drama queen.
Sim é verdade que me sinto demasiada cansada, não um cansaço físico, mas um cansaço de alma. O meu feitio empertigado, extrovertido, animado está em standby, até os palhaços têm direito ao repouso. Right? A verdade é que os últimos dez meses foram muito complicados. Como qualquer marinheiro que enfrenta uma tempestade, não tive na altura tempo para pensar. Precisei reagir sob pena de perecer. Arregacei as mangas, fiz o que foi necessário. A tempestade amainou e então pude olhar à minha volta, ver os destroços, as perdas, os corpos que tombaram, o cheiro a morte, a dor que paira. E então, assimila-se o sucedido, a dor que até então era expelida pela adrenalina, é agora absorvida por osmose. Vejo o rastro de destruição e questiono-me se valerá a pena. Olho para trás, tentando ver o que era, à procura da luz, à procura do antes, da sensação de que tudo fazia sentido. E é essa busca pelo sentido, pela razão de ser, que tem saído gorada. Talvez faça parte do crescimento, talvez precise de mudar as minhas prioridades, talvez precise repensar o meu caminho. Talvez, talvez, talvez... neste momento estou demasiado cansada para reagir, para pensar, para decidir. Neste momento respirar dói. Preciso repousar, todos os heróis precisam. Icei as velas e vou ao sabor do vento. Amanhã reajo...


(É verdade que, apesar da complexidade humana teimar em subverter a simplicidade da vida, esta encontra sempre a forma de manter um débil equilíbrio. E é verdade que nunca me faltou a luz, um faroleiro que me guiasse nesta tempestade. De entre as encostas conhecidas ou de onde menos esperava, sempre vislumbrei o lampejo, fixei os olhos no forte brilho e assim fui-me mantendo à tona.)



segunda-feira, 5 de agosto de 2013

do silêncio ensurdecedor...


Colin O’Brien, Lightning Over St.Paul’s, 1972

Para além da dureza e das traições dos homens, para além da agonia da carne, começa a prova do último suplício: o silêncio de Deus.

E os céus parecem desertos e vazios sobre as cidades escuras.


in O Homem, Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 24 de julho de 2013

não me hei-de resignar... não me hei-de resignar... não me hei-de resignar...


...Deviam ser resignados ou revoltados. Espero que fossem revoltados: é menos triste. Um homem revoltado, mesmo ingloriamente, nunca está completamente vencido. Mas a resignação passiva, a resignação por ensurdecimento progressivo do ser, é o falhar completo e sem remédio. Mas os revoltados, mesmo aqueles a quem tudo - a luz do candeeiro e a luz da Primavera - dói como uma faca, aqueles que se cortam no ar e nos seus próprios gestos, são a honra da condição humana. Eles são aqueles que não aceitam a imperfeição. E por isso a sua alma é como um grande deserto sem sombra e sem frescura onde o fogo arde sem se consumir.

in Praia, Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 5 de junho de 2013

E tu?



das alturas
da rotina
de ratos
de hospitais
da incapacidade
de perder 
da dor
do adeus
da solidão
de falhar
da trovoada
da escuridão
do vazio
de perder o controlo
do não
...




quarta-feira, 22 de maio de 2013

Da natureza Humana...




O tornado de Oklahoma foi apenas mais um. Ceifou vidas, destruiu edifícios, levou memórias, deixou marcas que custarão a passar. Mas, foi apenas mais um. Depois do choque, do luto, do choro, aquele povo vai arregaçar as mangas e reconstruir o que o vento destruiu: a mesma casa, a mesma escola, o mesmo parque no mesmo sítio. Tudo voltará a ser igual. Apesar da ausência de quem não sobreviveu, apesar da dor que vão sempre carregar, da cicatriz, mais uma, que vai ficar marcada na pele. Daqui a uns tempos vão olhar para trás e falar do tornado de 2013 como apenas mais um, será um termo de comparação para os próximos que virão. Porque virão mais. Sabemos nós e sabem os habitantes de Oklahoma. É apenas uma questão de tempo até serem atingidos pelo próximo tornado. Talvez menos destrutivo, talvez igualmente arrasador, essa é a única dúvida. Mesmo assim, não desistem de reconstruir a sua vida ali, de arriscar passar pelo mesmo tormento outra e outra vez. Resiliência? Coragem? Fatalismo? ou Tendência para o trágico? 
Sempre acreditei que a humanidade carrega uma natural tendência para o sofrimento. Um pouco aquela ideia religiosa de que só pela dor nos purificamos e por isso a aceitamos, a acatamos resignadamente, muitas vezes a procuramos. Há uma espécie de necessidade de sofrer para nos sentirmos vivos. Como se as lágrimas despertassem mais que o sorriso. Só isso explica o gostarmos tanto do que nos faz mal. O vivermos agarrados a recordações que nos consomem. A tendência suicida para repetir os mesmo erros outra e outra vez. Burrice? Masoquismo? Ou a mesma natureza que leva o louva-a-deus a procurar  a sua fêmea, mesmo sabendo que, no fim, acabará sem cabeça?