segunda-feira, 15 de julho de 2013

Podes voltar ao sítio onde foste feliz mas, não encontrarás lá a felicidade de outrora...


Mosteiro em dia de festa @ aldeia da minha avó

Este fim de semana quebrei com uma tradição que cumpro desde que nasci. Tinha precisamente um mês na primeira vez que fui à romaria na aldeia da minha avó, desde então todos os anos, religiosamente e, mesmo não sendo nada religiosa, assisti às festividades. Nos anos em que a minha avó ainda embelezava este mundo fazia-o por obrigação, afinal, ai! de quem faltasse à convocatória da matriarca. Festa da aldeia exigia casa cheia, mesa sempre posta para muitos, porta aberta aos romeiros que quisessem entrar e cumprimentar a família e, entre dois dedos de conversa, provar o vinho comer uma broa caseira, cozida de véspera, a acompanhar com os melhores bolinhos de bacalhau do mundo. Depois da partida da minha avó, passei a fazê-lo porque gostava, porque era uma oportunidade de ver pessoas que não vejo durante todo o ano, porque gostava de regressar à terra que me criou, onde as pessoas me tratam por a neta da Fininha, mas sobretudo fazia-o para estar perto dela, a minha avó. Ao longo destes 32 anos, recordo-me de ter faltado apenas duas vezes, uma porque estava muito ocupada a tentar não morrer no hospital, outra porque estava muito ocupada a divertir-me no Rio de Janeiro. Este ano decidi simplesmente não ir. Todos os anos a dor do regresso era tão ou mais forte que o prazer. A casa, que já não é a dela, de portadas fechadas, a varanda, onde poisava a melhor colcha de renda para saudar os santos da procissão, agora ocupada por caras estranhas, o banco de pedra, junto à floreira de rosas onde ela se sentava diariamente a tricotar meias para os netos, tristemente vazio. A terra que em tempos tinha impregnado em si o cheiro da minha avó ostenta agora um leve aroma. E eu não preciso de lá voltar para o sentir, já que tenho em mim todos os sentidos da minha avó.

(Ontem um querido amigo dizia-me que eu vivo muito no passado, que tenho de aprender a largar, a olhar e a aceitar o que está para a frente, a agarrar as oportunidades que a vida nos vai dando para o futuro. Não lhe contei esta história, porque não lhe quis dar razão (embora ele saiba que a tem...) mas sim, já comecei o meu processo desapego ao que já foi.) 


6 comentários:

Gija disse...

A casa estava lá vazia como sempre... e custa ver isso, mas as memórias são eternas e é sempre bom rever aquelas pessoas e ser de novo a filha da Maria Cândida a neta do Zé Mitro e da Fininha e ouvir o carinho das pessoas a falarem deles... E já agora a minha mãe cumpriu a tradição e fez bolinhos de bacalhau iguais aso da avó, perdeste isso também!!!

Sílvia disse...

Oh fiquei triste agora... Não me parece que essa história seja dar razão ao teu amigo.
As pessoas devem sim avançar na vida, mas nunca esquecendo as suas raízes. Acho que te deves desapagar, mas não para esquecer, antes para ir lá recordar e voltar não triste, mas com o coração cheio, afinal, recordar é viver! ;)

S* disse...

Temos de deixar o passado ser passado, para viver o presente de forma plena.

esmeraldameira disse...

MisS quando escreves um livro? Adoro tudo o que escreves :D

Pulha Garcia disse...

"já que tenho em mim todos os sentidos da minha avó" isso é o mais bonito de tudo. E também o mais importante.

Ps 32 anos! 32 anos! A sério que tens 32 anos? (ah não era a resposta certa?...)

MisS disse...

Gija,
Tenho de pedir à Candidinha que me faça bolinhos desses. Pode ser já para o próximo pêgo.

Sílvia,
Nem sempre é fácil regressar e, embora regressasse sempre com muito gosto, ficava com um vazio na alma, uma sombra que teimava em não passar. Este ano abri mão disso, senti a falta mas fiquei mais leve. Jamais esquecerei as minhas raízes, pois são elas que me dão alento para seguir em frente.

S*,
Nem mais! Mas nunca esquecer as lições que ficaram lá trás!

Esmeralda,
um dia destes...

Pulha,
vejo que continuas detestável...