segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

(arm)Strong




Ontem assisti às duas horas de entrevista de Armstrong. Como já havia dito aqui, Armstrong ocupava um lugar no meu Olimpo. Não tanto pelas 7 vitórias no Tour (hey, eu sou fã de qualquer pessoa que completa o Tour!) mas, sobretudo pelo exemplo de força e perseverança. Tentei não tecer considerações antes de ver a entrevista completa, as três falas que correram o mundo e abriram telejornais são manifestamente insuficientes para formar uma opinião consistente. Se foi uma desilusão? foi, claro que sim, é impossível não ficar desiludida com a mentira. Se tem desculpa ou justificação? Nenhuma. Se perdi o respeito que tinha por ele? Não, não perdi. Vi um homem completamente engolido pela vergonha. Alguém que um dia teve tudo, chegou ao topo do mundo. Nas palavras dele, alguém que tinha uma vida "too perfect": uma cura milagrosa, uma carreira incomparável, uma família perfeita. Ele vivia o sonho de qualquer humano, aquele sonho que sabemos não ser possível, porque a vida nunca é tão perfeita. Lutou por esse sonho, que mais não era que uma grande mentira, até ao fim com unhas e dentes. Pelo caminho perdeu amigos, perdeu dinheiro (num dia apenas perdeu 75 milhões de euros em patrocínios), perdeu o respeito, a consideração, a admiração. Perdeu a hipótese de algum dia voltar a fazer o que mais gosta: competir. As conquistas desportivas de Armstrong podem ter sido uma fraude mas, o ciclista deu mais ao mundo. Deu esperança a quem mais precisa, deu o exemplo de como vencer as probabilidades. Aos 25 anos lutou contra um cancro que tinha sobre ele vantagem estatística. Armstrong ganhou contra todas as previsões. Este é o maior exemplo que ele deixa. Oprah leu-lhe um email de uma amiga dela, onde dizia que ele era um sacana dos grandes mas, é a ele que ela deve a esperança. Foi graças ao livro de Armstrong, que ela leu  numa noite, nos cuidados intensivos, enquanto velava o seu filho de um ano com leucemia, que ela ganhou esperança, que passou a acreditar que o filho poderia vir a ser muito feliz. Armstrong fez muito pelos doentes de cancro, e não estou a falar dos mais de 500 milhões de euros que arrecadou, falo da esperança que incutiu e esta, por vezes, vale mais que qualquer droga.
Ontem vi um homem que aceitou a desonra com honra (tarde é certo). Muitos, por muito menos já puseram uma cordinha ao pescoço. Ele estava ali, a dar o peito às balas a assumir os muitos erros que fez a exibir as marcas de quem cai do céu. E a deixar-nos, uma vez mais, um exemplo: na vida não importa o que ganhas mas quem ganhas. No final tudo o que importa resume-se a quem amas.


6 comentários:

Sílvia disse...

Ora, não leves a mal, não é para deitá-lo ainda mais abaixo, mas eu quer-me parecer que ele só confessou porque vai lucrar com isso (filme, eventualemnte livro, e talvez outras cenas), depois de tudo perdido, pode ser que ainda lucre.

Se ele continuasse a negar sei lá, ficaria-se sempre na dúvida, os fãs apoiavam-no sempre, não sei o que seria melhor nesta altura confessar, ou continuar a negar. E também não me cabe a mim decidir.

Eu nunca fui fã do senhor, nem sequer de ciclismo, talvez nem sequer de qualquer tipo de desporto de alta competição, a não ser os jogos do meu Porto, porque é o meu Porto!! Isto, porque acho que a alta competição está toda assim, toda dopada! Foi ele que foi descoberto, mas os outros devem estar iguais, ou idênticos.
O desporto deixou de ser um desporto para ser um negócio e uma competição desmedida. Desde que soube que há (ou havia) atletas femininas que engravidavam para os jogos olímpicos, devido ao sistema hormonal melhor a sua performance, e no final abortavam, já espero tudo disto, que é tudo menos desporto.

MisS disse...

Sílvia, a minha alma está parva! isso acontece? de verdade?!!

Quanto ao Armstrong ele disse ter assumido por amor aos filhos. Um dia viu o filho mais velho de 13 anos a defendê-lo, a virar-se contra os amigos, e aí percebeu que não podia alimentar mais esta mentira. Se vai lucrar com isto? claro que vai mas, lucrava de qualquer forma, o filme teria era outro desfecho.

Gija disse...

Concordo contigo MisS! Mais, apesar de tudo isto, que não foi surpresa, para mim ele sempre será um vencedor porque venceu a mais dura prova de sempre, e continua a ser fonte de esperança para muita gente. Quanto á questão de ele continuar a ganhar dinheiro, espero sim que continue, porque só com o nome dele já angariou vários milhões para a fundação que criou a Livestrong e muitos dos quais foram empregues na pesquisa da cura contra o cancro!!!

Sílvia disse...

Se acontece actaulmente não sei, mas já espero tudo! Mas sim, verdade, já aconteceu, é muito antigo, não sei se ainda se pratica. Mas quando se chega a isto, acho que não há mais nada a dizer!

"...médicos da antiga Alemanha Oriental dopavam secretamente suas atletas entre as décadas de 70 e 80. Era prática também dos médicos da ex-Alemanha Oriental estimular a gravidez das atletas como ajuda para melhorar o rendimento físico. A gravidez provoca um doping natural, porque aumenta a taxa de hemoglobina, o que implica no aumento da capacidade aeróbica do atleta. O ideal era engravidar até dois meses antes das competições. Depois da prova, as atletas alemãs adeptas ao “doping da gravidez” faziam aborto. A campeã Olga Korbut, ginasta soviética que ganhou três medalhas de ouro em Munique-1972, revelou também no ano passado que ela e várias outras atletas soviéticas foram tratadas como “escravas sexuais” por seus treinadores..." (http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/dicionario_olimpico31.htm)

Aqui falam da Alemanha, mas penso que o maior escândalo foi na Ex União Soviética e China.

"a hCG, uma hormona produzida pelo feto durante a gravidez, é também usada pelos homens para aumentar a produção de esteróides no organismo. Existem também mulheres que engravidam, pois a hCG faz aumentar as concentrações de hormonas femininas e com tais concentrações ditas “naturais” muitas outras drogas dopantes que podem existir em certas concentrações são disfarçadas. Depois do teste de controlo, as atletas abortam..." (http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/educfisica/educfisica_trabalhos/doping.htm)


Inês disse...

Eu acho que ele acreditava que se dissesse muitas vezes mesma mentira, que esta tornava-se verdade...

Pulha Garcia disse...

Percebo o que queres dizer mas não acho que Armstrong mereça qualquer elogio (nem mesmo em nome da luta contra o cancro, uma causa que me é particularmente cara). Como homem do desporto e como exemplo a seguir, Armstrong esteve miserável. Mentiu repetidas vez e ganhou através da batota. Seja no FCP, seja no ciclismo, seja no berlinde. Sou contra batoteiros. O desporto começou por ser algo salutar e hoje, com a alta competição e com os montantes em jogo gerados pela publicidade, tornou-se em algo terrível. Algo está mal numa sociedade que gera Armstrongs ...