domingo, 6 de janeiro de 2013

moving on...

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Uma das minhas amigas mais próximas vive a 500 metros de mim. Somos amigas há mais de 20 anos. Ultrapassamos a adolescência juntas. Éramos o escudo uma da outra, nunca nos largávamos, dormíamos juntas, passávamos férias juntas, nunca uma ia onde quer que fosse sem a outra. Sobreviver à adolescência é como sobreviver a uma guerra, um laço que permanece para sempre inquebrável. Apesar de vivermos perto uma da outra, passam semanas sem nos falarmos. A rotina é uma bitch e, entre família, trabalho, ocupações, deveres, sobra muito pouco tempo para os amigos. Mas ser amigo é também isso, é saber que apesar do distanciamento eles estão lá. É saberem que independentemente do número de cenas que lhes estão reservadas, eles desempenham um papel fundamental na história da nossa vida. Mesmo sem partilharmos o dia a dia  a nossa relação não mudou em nada, quando estamos juntas ou nos falamos, tudo é natural e fácil. Em 2011 pai da R. faleceu, vítima de um cancro. Foi mais um momento difícil na vida dela, porventura o mais difícil. Estive com ela e partilhei aquele momento de dor. A família pediu-me para estar ao lado dela no cemitério, claro que acedi mas, a verdade, é que na hora não consegui. Como não consegui encará-la depois desta perda. Sou péssima a fazer o luto e a despedir-me das pessoas. O pai dela foi uma pessoa muito presente na minha vida e, além da dor de o perder, sentia ainda a dor da minha amiga por perder o pai, o herói, doía-me por lhe doer. Afastei-me, quando sei que devia estar mais presente. Nunca lidei bem com emoções. Choro nos momentos felizes e fico apática nos maus. Engulo a dor, escondo-a bem fundo, abafo-a e deixo-a consumir-me por dentro.  Apenas agora, quase dois anos volvidos, consigo abordar esse tema. Ainda é muito difícil ir à casa dela e não encontrar o pai, comemorar os aniversários sem ele sentado à minha beira  a tentar convencer-me a beber vinho, a berrar-me por o tratar por senhor. Há vazios impossíveis de preencher, dores que nunca passarão. Para mim, o mais difícil em existir é ultrapassar estes momentos, aceitar a mudança, conciliar-me com a vida, deixar os novos tempos instalarem-se e dizer adeus ao conhecido e seguro. Felizmente há coisas que nunca mudam, como a minha amizade com a R...

<3

4 comentários:

POC disse...

Bonito texto.
E parabéns por essa amizade. São as que contam.

MisS disse...

POC, acho que todas as amizades contam, até as que, aos poucos, se vão criando por aqui;) Esta é especial, porque já é visceral, dá-nos muito mas também nos tira, há sempre a preocupação de não conseguirmos cumprir, de estar lá...

Isa disse...

Infelizmente também sou um pouco assim.

POC disse...

@Miss S, que assim continue. O melhor da vida são os amigos (onde se inclui a família que é nossa amiga - alguns nem por isso, acontece em quase todas as famílias) e as viagens. São aquilo que guardamos.

Que saibas cativar sempre as boas amizades. Como com certeza saberás.