sexta-feira, 26 de abril de 2013

Quanto custa a Liberdade?




Ontem tinha uma sessão solene comemorativa do 25 de Abril. Faltei. Perdoem-me os abrilistas, estou muito grata a todos os que, de forma honestamente desinteressada, levaram a cabo esta revolução e restabeleceram a democracia no nosso país. Sou filha da liberdade, não saberia viver noutro regime que não democrático mas, a verdade é que acho que comemorar o 25 de Abril hoje faz tanto sentido como celebrar a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Foi um acontecimento histórico, mudou o rumo do nosso país, como revolução teve um lado poético, literário, ficará muito bem em romances de época contudo, é agora tempo de a devolver aos livros de história de pensar o futuro dentro da realidade que hoje é a nossa. Os discursos do 25 de Abril são ocos e fantasmagóricos. Evocam-se os valores de Abril como se dos 10 mandamentos se tratassem. Há um aproveitamento e um romancear de uma revolução que na verdade, e tendo em conta todo o contexto político da Europa de então, era uma inevitabilidade. Os valores de Abril assentavam essencialmente em dois pilares: democratização e descolonização. Estes valores, bem ou mal (a vergonha que foi o processo de descolonização deveria  fazer corar os pretensos e mediatizados heróis de Abril) foram cumpridos. Salazar está morto e enterrado, assim como o seu estado. Na actual conjuntura europeia, o surgimento de uma ditadura (pelo menos política) é impensável contudo, os ideais de esquerda (pouco escrupulosa) que governam este país há 40 anos insistem em relembrar o fantasma assustando o povo e acenando com o bicho papão. Tenho todo o respeito do mundo por aqueles que sofreram as consequências da tirania mas, não compreendo, nem aceito, a necessidade de manter esse fantasma presente impedindo a reflexão limpa e contextualizada da situação actual. E o que, a situação actual nos mostra é que as políticas que nos têm regido nos últimos 40 anos sãos insustentáveis, incomportáveis e ruinosas.
Gritam pela liberdade mas esquecem-se que a liberdade traz responsabilidades. Como um filho que ao cumprir o seu 18º aniversário se julga senhor de si mas, continua a viver às custas dos pais. É necessária uma consciencialização, a liberdade tem custos. Mais liberdade significa menos Estado e esta é a verdade que o povo que canta ainda não ordenou.
 
 

3 comentários:

Sílvia disse...

Mais uma vez, de perfeito acordo.

Nós actualmente não vivemos em liberdade, vivemos em libertinagem, que é diferente, mas as pessoas confundiram.

Ainda no dia 25 a ouvir o Marinho Pinto, esquerdista convicto, falar sobre esse dia, com todo aquele floreado que lhes é muito característico quando falam da revolução, que parece que salvaram a humanidade de extinção (não desvalorizando o que foi o 25 de abril, mas porra, nem 8, nem 80!), pensei que se estivesse frente a frente com ele lhe diria... «Você fala bem, de liberdade, porque pode ter os seus filhos num colégio, isolados do mundo. Eu que tenho que colocar os meus num sítio onde tanto pais, como alunos batem nos professores, acho que não tenho liberdade nenhuma. “A minha liberdade termina onde começa a dos outros”»

Libertinagem, é o que é! Toda a gente (políticos, entenda-se) rouba e não vai presa, toda a gente diz o que quer, mesmo que desrespeite os outros, enfim. Passou-se do 8 ao 80!

Pulha Garcia disse...

"a liberdade traz responsabilidades" totalmente de acordo.

Muitas pessoas acham que Abril era um objectivo final quando era apenas o início. Todos temos que trabalhar para uma sociedade melhor em vez de exigir por exigir, com base em fantasias teóricas e horas de comentadores. Por exemplo, deveríamos introduzir alterações concretas no nosso sistema partidário (que tem gerado péssimas opções para governantes) como poderia ser o caso de eleições primárias dentro de cada partido.

MisS disse...

Sílvia, respira mulher! Isto há-de ter uma solução.. Fala-me do teu rebento, para quando é esse milagre?

Pulha, poderia ser uma solução, o partidarismo em Portugal é de facto medíocre, abanam-se bandeiras mas desconhecem os ideais por trás dos símbolos. Mas sou mais pessimista acho que é necessária toda uma evolução sociolágica que, a avaliar pela capacidade de reflexão dos portugueses ainda vai demorar muitos anos...