quarta-feira, 13 de março de 2013

Longe pode estar apenas a vontade...





Vivemos num país pequeno. Na verdade vivemos num país minúsculo. Morando eu quase num extremo, consigo sair de manhã ir almoçar ao Algarve (o outro extremo) e regressar a tempo de cear em casa. Eu tenho a sorte de conhecer o meu país de norte a sul, de este a oeste (ainda falho nos Açores, mea culpa). Conheço todas as capitais de distrito de Portugal continental, conheço a grande maioria das nossas cidades, conheço até terriolas que não vêm no mapa. É-me por isso difícil de entender como, em pleno século XXI ainda há portugueses que não conhecem minimamente o seu país. Mesmo estando o país coberto por auto-estradas e por transportes públicos. E não estou a falar das pessoas mais idosas, que por diversas condicionantes viveram sempre presas à sua terra. Falo de jovens, com educação. Pessoas que abrem a boca para falar de grandes cidades mundiais, que passam férias em resorts estandardizados no México ou na República Dominicana, que gabam as maravilhas do estrangeiro, desconhecendo os tesouros que o seu país esconde.  
Por incrível que pareça, há portugueses que não conhecem o Porto, (a segunda cidade do país!) porque fica muito longe!!! Sim, há pessoas que usam o adjectivo longe junto a Portugal para desculpar a sua ignorância. Talvez sejam essas mesmas pessoas que tanto se ofendem com a promoção da simpatia dos portugueses apelidando-a de servilismo apenas e só porque, na verdade não a conhecem. Como não conhecem o país a que pertencem. Um país que, apesar de pequeno guarda em si grandes multiplicidades, um país que é quase um retrato do mundo. Porque a pior pobreza é a do conhecimento, a dos limites que auto impomos.  Pobre de quem nunca foi a Monção comer uma foda, ou nunca passeou pelo centro histórico de Viana enquanto se lambuzava com uma bola de Berlim do Natário. Pobre de quem nunca foi a uma romaria no Minho, ou de quem nunca experimentou o acolhimento único dos transmontanos, que às 6 da manhã e depois de uma noitada ainda te arrastam para a casa deles para comer presunto e chouriço porque não te podes deitar de barriga vazia e, a mãe ensonada, levanta-se para te servir, porque receber em casa lá é uma questão de honra. Pobre de quem não conhece Braga, uma das cidades mais antigas da Europa e actualmente a mais jovem, ou Guimarães o berço da nação. Pobre de quem nunca foi ao Gerês nadar nas suas lagoas geladas e respirar o verde mais puro. Pobre de quem nunca foi ao Douro no Outono e não viu os socalcos povoados com videiras de parras amarelas, laranja e vermelhas numa explosão cor de fogo. Pobre de quem nunca comeu ovos moles em Aveiro, ou não viu o manto branco e perfumado das amendoeiras em flor. Pobre de quem nunca viu as capas negras em Coimbra ou Pedro e Inês em Alcobaça. Pobre de quem nunca experimentou o inferno que é o verão em Castelo Branco ou Portalegre. Pobre de quem nunca conheceu as nossas praias fluviais, aquelas mesmo perto da nascente onde o rio é cristalino e a água quase bebível. Pobre de quem nunca viu os arrozais, os ninhos das cegonhas, o amarelo a perder de vista. Pobre de quem nunca viu o céu do Alentejo. As buganvílias em flor a contrastar com as casa caiadas. Pobre de quem nunca se perdeu nas serras algarvias, e entrou em pânico por a gasolina estar a acabar e não  haver sinais de vida durante muitos e muitos kms. Pobre de quem nunca se banhou nu nas pequenas praias desertas recortadas nas rochas. Pobre de quem não conhece o seu país mas, sobretudo pobre de quem não tem curiosidade e coragem de o conhecer. Porque, aqui longe pode estar apenas a vontade...



4 comentários:

Sílvia disse...

Mais uma vez, plenamente de acordo!
A minha lua de mel foi passada no Alto Douro Vinhateiro, com direito a passeio de barco do Pinhão à Romaneira e não trocava por nenhum país estrangeiro.

S* disse...

Eu, que nunca fui além de Setúbal, fiquei deliciada com as referências ao meu santo distrito.

Pulha Garcia disse...

Concordo plenamente. Em Portugal, gosto de tudo mas sou um fã em particular do Alentejo e dos Açores, que considero locais únicos no planeta.

Ps: Málaga, por exemplo, é muito feio.

MisS disse...

Sílvia, tiveste a tua lua de mel numa das paisagens mais lindas do mundo. Já fiz a subida do Douro de barco e de comboio e cada vez que lá volto o deslumbre é o mesmo.

S* partilhamos o mesmo distrito e muito mais havia a dizer sobre ele. Tens de apostar numas idas abaixo de Setúbal, grandes surpresas te aguardam lá.

Pulha, tenho de marcar uma incursão aos Açores, ainda não conheço. Mas partilho o fascínio pelo Alentejo, aquele céu à noite hipnotiza-me...

Por acaso até gosto de Málaga. Neste momento não gosto nada é de Espinho, pá. Aquela terra só devia dar pescadores...