quarta-feira, 20 de março de 2013

Lost in interpretation


Blue II

Tenho algum treino de escrita. Faz parte da minha formação, fez já parte da minha actividade profissional, hoje resume-se a um prazer que vou exercendo aqui e ali. Diz-me a experiência que, por muito objectivos que sejamos, nunca somos donos da interpretação das nossas palavras. Dizer que a felicidade é azul, parece básico mas, a verdade é que alguns vão imaginá-la azul escuro, outros azul porto, outros azul céu ou azul cueca, outros ainda azul turquesa da cor do mar. Já os daltónicos vão vê-la verde, porque não sabem o que é azul. Mesmo as mais simples das palavras estão sujeitas à interpretação de cada um. Porque lemos com os nossos olhos, os mesmos que nos mostram a nossa realidade. A nossa interpretação é o nosso cunho, é um reflexo do que somos e pensamos. Para alguém que escreve,  pensar na interpretação que vão dar às nossas palavras é abrir uma caixa de Pandora. É travar a criação, é o hesitar perante a folha banca, é desprover o texto de sentido, é dar a quem nos lê uma fria sala esterilizada ao invés de uma sala de estar acolhedora. Antecipar o que quem nos lê vai interpretar é um exercício de insanidade, é mergulhar em realidades que nos são completamente estranhas, é uma experiência esquizofrénica que nos arrasta para um labirinto sem saída. Escrever deve ser um acto livre, sem censura, sem vergonha, sem medo. Tal como na vida, escrever com a preocupação com o que possam pensar de nós é enjaular-nos, é trair os nossos princípios e ideais, é sermos covardes. Não importa que pensem que somos idiotas, ridículos ou piegas. Não importa que nos achem muito dados ou pouco sociáveis. A interpretação é sempre da responsabilidade do leitor e, qualquer semelhança com a realidade pode ser pura coincidência. Eu sou o que escrevo aqui, o que não significa que seja o que vocês lêem... 


3 comentários:

Quel* disse...

Exactamente. Como eu costumo dizer: "Eu sou responsável pelo que digo/escrevo, não pelo que os outros percebem"

MisS disse...

Quel* precisely... ;)

Inês disse...

E eu gostei mesmo muito do que li.
A felicidade não tem que ser azul e quem nos lê, deve também saber ler nas entrelinhas. Assim como nós que também lemos algo.
Eu gosto de procurar por entre as linhas, em blogues, livros.
Gosto desse exercício.