segunda-feira, 23 de julho de 2012

Hoje deu-me para isto...* II


Tatuagem de Cléo Pires na Playboy, Julho de 2010

"Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre
aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia:
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmos."

Esta é uma das (muitas) falsas atribuições ao génio de Fernando Pessoa , mas na realidade o autor é Fernando Teixeira de Andrade (1946-2008). O fragmento que circula sob a falsa autoria foi retirado deste texto,

O medo: o maior gigante da alma
Para quem tem medo, e a nada se atreve, tudo é ousado e perigoso. É o medo que esteriliza nossos abraços e cancela nossos afetos; que proíbe nossos beijos e nos coloca sempre do lado de cá do muro. Esse medo que se enraíza no coração do homem impede-o de ver o mundo que se descortina para além do muro, como se o novo fosse sempre uma cilada, e o desconhecido tivesse sempre uma armadilha a ameaçar nossa ilusão de segurança e certeza.
O medo, já dizia Mira Y Lopes, é o grande gigante da alma, é a mais forte e mais atávica das nossas emoções. Somos educados para o medo, para o não-ousar e, no entanto, os grandes saltos que demos, no tempo e no espaço, na ciência e na arte, na vida e no amor, foram transgressões, e somente a coragem lúdica pode trazer o novo, e a paisagem vasta que se descortina além dos muros que erguemos dentro e fora de nós mesmos.
E se Cristo não tivesse ousado saber-se o Messias Prometido? E se Galileu Galilei tivesse se acovardado, diante das evidências que hoje aceitamos naturalmente? E se Freud tivesse se acovardado diante das profundezas do inconsciente? E se Picasso não tivesse se atrevido a distorcer as formas e a olhar como quem tivesse mil olhos? "A mente apavora o que não é mesmo velho", canta o poeta, expressando o choque do novo, o estranhamento do desconhecido.
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.


Fernando Teixeira de Andrade


*Atenção, por favor, não confundir o título com uma rubrica de uma blogger "famosa". Obrigada!
Hdpi... I

2 comentários:

Gija disse...

Mona a mensagem esta aqui e é a certa, resta-nos pô-la em pratica...

Pulha Garcia disse...

Mona,

muito interessante a mensagem. E a pesquisa.

(bem melhor que a selecção de imagens de inauguração de discotecas, pá ... just saying ...)