quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Usado é melhor que novo...

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Nunca me consegui render à ideia de roupa em segunda mão. Compreendo o conceito, acho uma boa ideia, entro em diversas lojas do género mas, nunca consegui aderir. Não tenho nenhuma explicação racional para a  minha resistência, apenas o facto de não me sentir confortável na pele que já foi de outra pessoa. Por outro lado, gosto de livros usados. Prefiro folhear um livro que já passou pelas mãos de outras pessoas, que guarda as suas vincas, as suas marcas. Um livro que cheira a história com as páginas já amareladas, ao invés da brancura alva dos livros novos. Gosto de entrar num alfarrabista (infelizmente cada vez mais raros) e perder-me por lá, entre velhas edições e autores não mais editados. Gosto de estar a ler um livro e ser surpreendida por um apontamento, um sublinhado e assim, imaginar que sentido faria aquela frase para a pessoa que, antes de mim, viajou por aquelas páginas. Gosto de vaguear entre as bancas de livros da feira da ladra, descobrir tesouros, redescobrir clássicos. Gosto de bibliotecas desde o tempo em que a carrinha da Gulbenkian estacionava frente à casa da minha avó, no centro da aldeia e eu, mesmo antes de saber ler, era a primeira a entrar para escolher os livros que me fariam companhia nas semanas seguintes. Ainda hoje, é fácil perder-me numa biblioteca. Pegar num livro, sentar-me no chão e deixar-me ir pela história nos livros e pelas histórias dos livros. Ontem, escolhi um apenas porque, ao folheá-lo, encontrei um origami com uma declaração de amor. Confesso que a história daquela estrela em papel macio cor pastel e letras pintadas a tinta preta, me intrigou mais que a história narrada nas diferentes páginas. A declaração é simples, um amo-te desenhado no centro da estrela. Mas, confesso que me fez viajar. Olho para a estrela e questiono-me sobre o seu esquecimento no meio destas páginas, seria propositado? uma espécie de tentativa para esquecer o artesão que a moldou? seria um descuido e alguém, neste momento, lamenta a perda desta bonita mostra de amor? Terá o livro em que ela repousa algum significado? As perguntas caem-me em torrente, tento arranjar uma explicação positiva para todas, apenas porque preciso de acreditar...


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